Título: Guerra agora é empresarial
Autor: Paul, Gustavo; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 21/04/2010, Economia, p. 21

Em leilão marcado por batalha judicial, grupo de Bertin leva Belo Monte, mas consórcio racha Gustavo Paul e Mônica Tavares BRASÍLIA

Num leilão rápido, que durou apenas sete minutos, o consórcio Norte Energia, liderado pela estatal Chesf e pelo grupo Bertin, surpreendeu analistas e encerrou 35 anos de discussões ao ganhar ontem o direito de construir a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, Pará. Em um lance ousado, o grupo propôs tarifa de R$ 77,97 pelo megawatt/ hora (MWh), o que representou um deságio de 6,02% sobre o preço-teto de R$ 83. Mas, logo depois do leilão, o grupo rachou. As construtoras Queiroz Galvão e J.Malucelli informaram aos demais sócios que pretendem abandonar o grupo, por questões internas.

O risco de dissolução de uma parcela do consórcio ainda é encarado como uma balela pelo governo, que a encara como um instrumento de pressão para amealhar melhor posição dentre os demais sócios.

Apesar do imbroglio, o ministro de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou: O presidente ficou muito satisfeito, porque muitos dos pilares que foram implantados no governo Lula foram de modicidade tarifária. É a usina que mais se estudou o aspecto ambiental da usina (...) O licenciamento foi o melhor que já ocorreu no Brasil, todos os cuidados foram tomados. Os tais especialistas (que criticam o empreendimento), seria recomendável que eles dessem uma revisitada nessa área de planejamento estratégico.

Ao longo do dia, o racha empresarial não era perceptível. As duas construtoras participaram da sessão que derrotou de longe o consórcio Belo Monte Energia, formado por gigantes como a construtora Andrade Gutierrez, Vale, Votorantim e a estatal Furnas, que teria oferecido uma tarifa de R$ 82,90, segundo informações não oficiais.

Formado sexta-feira passada, a poucas horas do prazo final para o registro dos grupos que concorreriam no leilão, o consórcio Norte Energia era considerado o azarão da disputa. Ele é composto pela Chesf, que tem 49,98% de participação, e pelas construtoras Queiroz Galvão (10,02%), Galvão Engenharia (3,75%), Mendes Junior Trading (3,75%), Serveng-Civilsan (3,75%), J. Malucelli (9,98%) e Cetenco Engenharia (5%). O Bertin é representado pela Gaia Energia (10,02%) e a Contern Construções (3,75%)