Título: Aviões no ar, prejuízos em terra
Autor:
Fonte: O Globo, 22/04/2010, O Mundo, p. 24

Europa retoma voos, mas empresas aéreas têm em 6 dias 60% das perdas esperadas em 2010 LONDRES

Após uma semana de caos nos aeroportos, a Eurocontrol, a agência aérea europeia, esperava que hoje pudessem aterrissar e decolar quase todos os voos do continente.

Com milhões de passageiros ainda aguardando uma vaga nos voos, as companhias aéreas começam a contabilizar seus prejuízos, com as cifras alcançando quase US$ 2 bilhões.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) informou que a paralisação no norte e centro da Europa, causada por uma nuvem vulcânica, custará às companhias aéreas US$ 1,7 bilhão. Isso equivale a mais da metade das perdas esperadas para todo o ano de 2010 ¿ 60,7%. Os prejuízos atingem ainda a indústria turística.

Na Espanha, por exemplo, o setor calcula as perdas em US$ 252 milhões.

No auge da crise, um terço dos voos do mundo foram afetados, prejudicando 1,2 milhão de passageiros por dia. Entre sábado e segunda-feira, as companhias aéreas chegaram a perder US$ 400 milhões por dia.

¿ Para uma indústria que perdeu US$ 9,4 bilhões no último ano e que prevê perder mais US$ 2,8 bilhões em 2010, essa crise é devastadora ¿ afirmou o presidente da Iata, Giovanni Bisignani.

A Comissão Europeia afirmou que ajudará as companhias aéreas a superar a crise causada pelo fechamento do espaço aéreo. Muitas companhias aéreas criticaram duramente a extensão das restrições aéreos.

Pela primeira vez desde o início da crise, nenhum país apresentava ontem restrição total ao voo ¿ as restrições se limitavam ao espaço aéreo abaixo dos 6 mil metros em áreas da Finlândia e do norte da Escócia. Mas, os transtornos aos passageiros podem se prolongar até maio.

Ao redor do mundo, as companhias aéreas colocaram voos extras, tentando contornar o cancelamento de quase 100 mil voos nos últimos dias. Longas filas se formavam nos maiores aeroportos da Europa, como Londres, Paris, Frankfurt e Madri.

No Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos foi um dia de emoção com a volta dos brasileiros que ficaram retidos na Europa. O choro se misturava ao riso com famílias se reencontrando.

A frequência dos voos vindos da Europa voltava à quase normalidade: das 14 chegadas previstas de manhã, apenas duas foram canceladas, ambas de Londres, uma da British Airways e outra da TAM.

Das 18 partidas previstas para o final da tarde e noite de ontem, apenas uma, às 16h15m, da British Airways, para a capital inglesa, foi cancelada.

Os passageiros lembravam dos apuros que passaram. A farmacêutica Renata Sofredini de Freitas havia viajado para um congresso na França. Ela tentou sair de Paris e embarcar por Zurique, na Suíça.

Mas, ao chegar, a nuvem vulcânica também estava lá.

¿ Só conseguiram remarcar meu voo para terça-feira, ainda com espera. Se não conseguíssemos embarcar na terça à noite, só teriam disponibilidade para maio, porque tudo estava lotado.

Aí bate o desespero, você quer ir para casa de qualquer jeito ¿ contou.

Vulcão perde intensidade

A reabertura dos aeroportos continua a gerar polêmica.

Os pilotos reclamam que não foram ouvidos e algumas pessoas veem pressões das companhias aéreas. A British Airways teria entrado em contato com as autoridades quando já tinha mais de 20 aviões no ar, querendo pousá-los em Londres, enquanto o espaço aéreo britânico ainda estava fechado na terça-feira. A KLM também enviou aviões a Amsterdã antes da reabertura, informou a associação holandesa de pilotos.

Na Islândia, o causador do problema, o vulcão Eyjafjallajokull, perdeu 80% de sua intensidade, mas a situação ainda é inconstante. Embora ele esteja lançando blocos de magma do tamanho de um carro, a emissão de cinzas diminuiu. Há temores de que a erupção faça o vulcão Katla, vizinho e maior, entrar em atividade.

COLABOROU Donizeti Costa, de São Paulo