Título: FMI prevê que Brasil crescerá 5,5% no ano e alerta para superaquecimento
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 22/04/2010, Economia, p. 22

Fundo apontou riscos de ´tensões inflacionárias` em países emergentes Correspondente

WASHINGTON e BRASÍLIA.O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou, ontem, para o risco de superaquecimento da economia brasileira. Para o fundo, o Brasil terá de retirar estímulos fiscais, avaliou Petya Koeva, do departamento de Estudos Econômicos Mundiais, na apresentação do relatório Panorama Econômico Global. A instituição projeta um crescimento de 5,5% em 2010 e de 4,1%, em 2011 ¿ 0,4 ponto percentual acima da estimativa de janeiro (as últimas previsões do Banco Central são, respectivamente, de 5,8% e 4,5%).

Olivier Blanchard, diretor do departamento de Pesquisas do FMI, apontou riscos de ¿tensões inflacionárias¿ em países emergentes, o que forçaria um aumento das taxas de juros em alguns deles. Sem citar o Brasil, Blanchard assinalou também a ameaça de formação de ¿bolhas especulativas¿ nas economias emergentes, por causa do forte aumento do fluxo de capitais, atraídos pelas perspectivas de crescimento e juros favoráveis.

Mas se mostrou confiante na capacidade do grupo dos emergentes em controlar o capital, evitar excessos e manter um crescimento estável.

O relatório do FMI destaca uma recuperação econômica global ¿além das expectativas¿ no rastro da crise financeira, mas em ¿diferentes velocidades¿.

O Fundo prevê um crescimento econômico mundial de 4,2% em 2010 ¿ um aumento de 0,3 ponto percentual em relação à previsão de janeiro ¿, e de 4,3% para 2011. Para as economias avançadas, as estimativas de crescimento são, respectivamente, de 2,3% e 2,4%.

Prudência dos consumidores nos EUA, escassez de crédito na zona euro e retorno da deflação no Japão são alguns fatores listados pelo Fundo que explicariam dificuldades enfrentadas pelos países ricos. Na análise do FMI, o principal desafio desses países será o da ¿consolidação fiscal¿, para conter os avanços do altos índices de déficit e de dívida públicos. O Fundo sugere uma depreciação das moedas dos países ricos em relação ao grupo dos emergentes, como forma de estimular as exportações.

¿ Não deve haver grandes mudanças na relação euro-dólar ¿ disse Olivier Blanchard.

No caso dos emergentes, os índices de crescimento econômico são mais ¿vigorosos e duráveis¿: 6,3% e 6,4%, com destaque para os asiáticos, de 8,7% e 8,6%. Para a China prevê-se, novamente, o maior crescimento, de 10% neste ano ¿ contra 3,1% para os EUA e 1% para a zona euro ¿ e de 9,9% em 2011.

O grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China (Bric) estará particularmente empenhado em demonstrar a força das economias em desenvolvimento durante a crise. Esses países querem que o FMI reconheça seu sucesso e deixe claro que o receituário de superávits primários elevados em períodos de crise e contenção dos gastos públicos precisa mudar.

Segundo técnicos do governo brasileiro, a pedido do G-20 (grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo e que se reúne paralelamente ao FMI), o fundo já começou a fazer levantamento do arsenal que foi usado contra a crise e, ao fim do encontro, deve divulgar um documento destacando que o ritmo de retirada dos incentivos.

COLABORARAM Martha Beck, Vivian Oswald e Patrícia Duarte