Título: Consórcio de Belo Monte arrecadará R$ 80 milhões com venda de madeira
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 22/04/2010, Economia, p. 20
Mas grupo deverá ter prejuízo com desmatamento, que custará R$ 100 milhões
USINA DE POLÊMICA: Objetivo da limpeza da área é evitar erros de Tucuruí
BRASÍLIA. O Consórcio Norte Energia, que ganhou o leilão de Belo Monte, terá de desmatar toda a área a ser inundada para formação do reservatório da usina, mas não conseguirá ter lucro com a venda de madeiras nobres. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) estima que a quantidade restante de madeira com valor comercial na região some R$ 80 milhões.
Mas, como a obrigação é retirar toda a cobertura florestal, a empresa terá um custo de R$ 100 milhões de desmatamento. Atualmente, a maior parte da floresta é composta da chamada ¿madeira branca¿, de baixa qualidade, que terá dois destinos principais: será usada na construção ou se transformará em carvão.
Total desmatado será de 118 km2
As madeiras nobres da área afetada pela usina são mogno, jatobá, cedro, maçaranduba e ipê, entre outras, mas a maior parte já foi derrubada pelos proprietários rurais, que residem ali desde 1970, atraídos pela rodovia Transamazônica.
Dos 516 quilômetros quadrados do reservatório, 309 km2 correspondem a área de terra firme. Mas, apenas 38% (118 km2) ainda tem cobertura florestal original. O restante foi desmatado nos últimos 40 anos.
Por determinação do edital, o empreendedor terá de retirar toda a floresta existente, para evitar danos ambientais.
O exemplo a ser evitado é o da usina de Tucuruí, também no Pará, onde uma parcela significativa das árvores não foi aproveitada e apodrece na superfície do lago. Esse processo de apodrecimento emite gás metano na atmosfera, cujo potencial de geração de efeito estufa é 21 vezes superior ao gás carbônico.
O empreendedor terá de comprar a madeira dos proprietários rurais e vendê-la para as madeireiras locais. O plano de investimento local a partir da construção de Belo Monte prevê justamente o renascimento da indústria madeireira local, que praticamente se extinguiu desde o assassinato da missionária americana Dorothy Stang, em 2005. Usando a Polícia Federal, o governo fechou o cerco contra a extração ilegal na região, que abastecia quase a totalidade das madeireiras locais.
Indenizações de área alagada somam R$ 700 milhões
O EIA determina ainda que o desmatamento e a limpeza das áreas deverão ser feitos de forma planejada. Esse programa prevê ainda que as populações indígenas devem aproveitar parte da madeira a ser retirada. A forma como isso vai ocorrer, porém, ainda não foi detalhada. As regras de construção também exigem que a madeira de valor comercial deverá ter Certificação Florestal, para que sua origem seja reconhecida para o consumo final.
Os empreendedores terão de arcar com um custo muito elevado para pagar as compensações ambientais previstas no projeto. Estima-se que o custo para mitigação ambiental e pagamento de indenizações na área a ser inundada é de R$ 700 milhões. Na área rural serão afetadas 2.822 pessoas que vivem em 1.241 imóveis.
O maior contingente de afetados está na área alagada de Altamira, onde 4.747 imóveis deverão ser removidos e 16.420 pessoas deverão ser realocadas.