Título: Mantega nega que economia do país corra risco de superaquecimento
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 23/04/2010, Economia, p. 29

Ministro alega que maioria dos estímulos foi retirada e inflação está "razoável" Correspondente

WASHINGTON. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou ontem que a economia brasileira apresente sinais de superaquecimento, como alertou na véspera o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ontem, a agência de classificação de riscos Moody¿s disse que o Brasil atingirá a zona de superaquecimento da economia ainda em 2010.

Mantega, porém, discorda: ¿ Há muito tempo que digo que a economia brasileira iria aquecer em 2010, nós demos os estímulos para isso, mas não está superaquecida ¿ disse o ministro em Washington, onde participa da reunião do G-24 realizada paralelamente à reunião anual conjunta do FMI e do Banco Mundial (Bird).

Para a Moody¿s, ¿a forte recuperação da economia brasileira este ano, em sua maior parte sustentada na absorção doméstica, está gerando um excesso de demanda que já começou a impor pressões na inflação e nas importações¿. A agência acrescentou que o governo brasileiro deveria restringir sua política monetária, ou seja, elevar os juros da economia ¿ na semana que vem, o Banco Central (BC) decide a nova taxa básica, hoje em 8,75% ao ano, e o mercado aposta em alta de até 0,75 ponto percentual.

Anteontem, o FMI, em seu Panorama Econômico Global 2010, defendeu que o Brasil deveria retirar sua política de estímulos fiscais. Segundo Mantega, isso já está ocorrendo: ¿ A maioria dos estímulos fiscais foi retirada, a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor de automóveis, de linha branca, móveis, já caducou, não tem mais.

Para o ministro, a economia do país ainda não atingiu os limites de sua capacidade e a inflação será mantida sob controle.

O governo prevê um índice de inflação entre 4,5% e 5% , o que é ¿bastante razoável¿ para uma economia que está crescendo em mais de 5%, segundo Mantega. Ele não quis, no entanto, comentar sobre um possível aumento da Selic: ¿ É uma conclusão que tem de ser tirada pelo BC, se precisa aumentar juros ou não, se de fato for detectada uma inflação de demanda, falta de produtos. Não identifiquei, até agora, inflação de demanda.

Mantega quer antecipar para janeiro reforma no FMI

Ele pediu que se esperem os resultados econômicos de abril, maio e junho, para que se tomem as medidas necessárias caso surjam, de fato, sinais de superaquecimento: ¿ O BC não hesitará em mexer nas taxas de juros e o Ministério da Fazenda, nas tarifas de importações e redução de alguns tributos, como já fizemos no passado, quando subiu a gasolina.

O presidente do Bird, Robert Zoellick, concordou: ¿ Vejo sintomas de préaquecimento para regiões da Ásia, mas ainda não no caso do Brasil ¿ afirmou.

Mantega também defendeu a antecipação da discussão das cotas de participação dos países no FMI, para que o processo seja finalizado até janeiro do ano que vem. Os países emergentes queriam um aumento de 7% em sua representatividade, mas um acordo prévio estabeleceu o índice de aumento em 5%, já apoiado pelos EUA e alguns países europeus.

¿ Melhor pegar esse percentual do que nada. Temos de aproveitar o embalo da reforma do Banco Mundial e avançar a mudanças no FMI ¿ disse Mantega.