Título: FMI: ainda há risco de nova crise
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Fonte: O Globo, 23/04/2010, Economia, p. 29

Diretor do Fundo diz que "mundo ainda é lugar perigoso" WASHINGTON e ATENAS. ¿O mundo ainda é um lugar perigoso¿ e o risco de uma nova crise permanece. O alerta foi feito ontem pelo diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn.

¿ Não se pode ter a ideia de que a crise é algo do passado ¿ disse ele em Washington, às vésperas da reunião anual conjunta do FMI e do Banco Mundial.

Apesar de a recuperação econômica mundial pós-crise financeira ocorrer de forma ¿mais rápida do que a esperada¿ ¿ com um crescimento global de 4,2% previsto para este ano ¿, ameaças estão no ar. A primeira delas, segundo Strauss-Kahn, são os altos índices de desemprego e a fraca demanda para o setor privado nos países ricos. Isso exige a aplicação de novas políticas públicas. A alta dívida pública dos países ricos também foi apontada como um problema a ser resolvido para assegurar a estabilidade econômica.

¿ A relação da dívida pública com o PIB (nos países do G7) vai aumentar em 35 pontos percentuais até 2014, de 80% para 115%. É essencial voltar a níveis de dívida mais razoáveis ¿ disse Strauss-Kahn.

Ele citou ainda a reforma do sistema financeiro global como passo crucial e urgente para evitar futuras crises. O diretorgerente do FMI citou a reforma que está sendo proposta pelo governo americano: ¿ O que os EUA estão fazendo não está muito longe do que nós do FMI propomos.

Strauss-Kahn também abordou o problema do câmbio na China, afirmando que Pequim deve acabar com a desvalorização de sua moeda, não só para o bem da economia mundial, mas para o seu próprio bem.

Em relação aos países emergentes, ele apontou para o perigo do excesso de afluxo de capitais, o que pode provocar bolhas especulativas e turbulências inflacionárias, sem, no entanto, citar o Brasil. Strauss-Kahn admitiu que a crise na Grécia é grave, mas não entrou em detalhes, alegando que o FMI está negociando com as autoridades do país.

Ontem, o déficit público grego de 2009 foi revisado para cima, subindo de 12,7% do PIB, como originalmente informado, para 13,6%, o equivalente a C 32,3 bilhões. O teto para déficit público permitido pelas autoridades da zona do euro é de 3% do PIB.

E a agência de rating Moody¿s rebaixou ontem a nota de crédito da Grécia de A3 para A2, com viés negativo, colocando o rating a apenas quatro pontos acima da classificação junk (especulativa). (Fernando Eichenberg, correspondente, com agências internacionais)