Título: O melhor é um crescimento equilibrado
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Fonte: O Globo, 23/04/2010, Opinião, p. 6
Há uma expectativa quase unânime no mercado financeiro sobre o que deverá acontecer na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), semana que vem: as autoridades do Banco Central devem decidir por uma elevação nas taxas básicas de juros. O que se discute é a dosagem do ajuste (se 0,25, 0,50 ou 0,75 ponto percentual).
A razão para essa avaliação é a trajetória recente da inflação ¿ já projetada para acima de 5% este ano, quando o centro da meta é 4,5% ¿ , conjugada a um impulso de crescimento da economia que pode se manter muito forte nos próximos meses. Para elaborar suas projeções, os analistas do mercado financeiro ficam atentos ao que se chama de hiato do Produto Interno Bruto. Pelo nível de investimento em curso no país, pode-se estimar o quanto a economia consegue crescer sem provocar desequilíbrios expressivos. O hiato é o que ultrapassa essa capacidade; senão for suprido por importações, a inflação se encarrega de preenchê-lo.
Os analistas já enxergam um hiato pela frente e, desse modo, acreditam na necessidade de um freio para diminuir a velocidade do crescimento da economia, de modo que as metas de inflação definidas pelo governo não fiquem ameaçadas daqui para a frente. O freio usual seriam as taxas básicas de juros que, se elevadas, encarecerão toda a estrutura do crédito.
É um ajuste mais de sintonia fina do que uma parada brusca. A inflação não está fora de controle, mas dá sinais de que pode se afastar do ponto central da meta. Um pouco menos de crescimento talvez já seja suficiente para que os índices de preços retrocedam para o patamar desejado. O ainda fraco desempenho econômico nas nações mais ricas tem facilitado essas importações, assim como o seu financiamento. O Brasil conta hoje com reservas cambiais elevadas (mais de US$ 245 bilhões) que formam um escudo contra crises financeiras internacionais, como se comprovou na prática, no ano passado. No entanto, não convém que essa dependência se acentue, fragilizando a confortável situação nas contas externas, duramente conquistada pela economia brasileira.
Os investimentos previstos ajudarão o país a reequilibrar suas transações correntes em futuro não distante, seja por expansão de exportações, seja pelo recebimento, também, de lucros e dividendos. Mas, até que isso ocorra, é preferível que o Brasil cresça a um ritmo mais sustentável, mantendo a inflação dentro das metas e as contas externas sem déficits tão elevados. É melhor do que ter de pisar no freio abruptamente. Essa experiência negativa todos nós conhecemos bem.