Título: Corrida para abafar a crise
Autor: Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 13/06/2009, Política, p. 2

Tentando empurrar o passado para debaixo do tapete, senadores estudam impedir a vigência de atos enquanto não forem publicados. Mas só daqui em diante.

Mão Santa: senadores agora tentam pôr a culpa na falta de regras na casa Preocupados com os danos que a varredura nos atos secretos do Senado irá causar à imagem de ex-presidentes da Casa e outros parlamentares beneficiados pelas decisões sigilosas, integrantes da Mesa Diretora estudam uma medida urgente para tentar minimizar os efeitos da nova crise ética no Salão Azul. O comando do Senado deve editar uma norma disciplinando a futura edição de atos administrativos, proibindo a validade deles até a publicação. Assessores técnicos já estudam um texto para a nova regra, que apesar de apenas redundar o que já está previsto na lei da administração pública, deve ser apresentada à sociedade como uma saída para abafar a onda de acusações e ameaças que correm nos bastidores.

Alguns senadores já admitem que além da possibilidade de editar uma nova norma também é preciso discutir a situação do atual diretor, Alexandre Gazineo. Ele sucedeu Agaciel Maia no cargo depois de ser seu diretor adjunto. Na sombra de Agaciel, Gazineo assinou muitos dos atos secretos. O que, na visão dos senadores, o coloca em uma situação praticamente insustentável no cargo.

Na opinião do segundo-secretário, João Vicente Claudino (PTB-PI), a Mesa terá que tomar decisões, não apenas punindo os responsáveis pela irregularidades do passado, mas criando regras para evitar novos atos secretos. ¿Estava comentando com outros membros da Mesa que até agora só houve concessões de benesses e coleguismo entre as pessoas. Entre diretores e parlamentares. Foram anos de erros e irregularidades. Acontece que a bomba estourou na nossa mão e temos que tomar as providências. Não adianta fugir. Vamos punir os responsáveis e tomar atitudes para evitar que isso se repita¿, comenta Claudino.

Feridas A fim de mostrar trabalho e encontrar uma saída honrosa para a crise, a Mesa ainda tem outro desafio. Mesmo que a cabeça de Gazineo seja entregue na bandeja como bode expiatório das irregularidades cometidas na gestão de Agaciel, líderes já admitem que as feridas entre os próprios parlamentares poderão aparecer no jogo de empurra de responsabilidades entre ex-presidentes da Casa e seus aliados beneficiados pelos atos sigilosos. Um líder dá o tom da troca de farpas: ¿Todo mundo tem que lembrar que não é somente o presidente ou o diretor. Também tem os vices e os secretários de anos anteriores. Será que eles não sabiam de nada? Será que ninguém sabia de nada? Acho que se forem mexer nisso vai respingar em muita gente. Por isso, tudo deve ficar como está¿.

Justamente pelo interesse de integrantes dos diferentes partidos em não investigar a fundo o teor dos atos secretos é que as novas regras para discipliná-los podem ganhar força. O quarto-secretário, Mão Santa (PMDB-PI), acredita que a falha nas normas da Casa e as brechas deixadas pela legislação em vigor são a principal causa de muitas das irregularidades. ¿Faltam regras claras sobre muitos assuntos. Precisamos mexer nisso. Na questão do auxílio-moradia, por exemplo, tinha muita coisa sem norma e por isso algumas coisas erradas, que não eram ilegais, foram feitas. Temos o dever de mexer e criar as regras que faltam¿, afirma.