Título: Tão diferentes, e tão parecidos nos discursos
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 25/04/2010, O País, p. 14

Neste começo de pré-campanha, Serra e Dilma apresentam propostas coincidentes para diferentes setores

SÃO PAULO. Propostas de governo de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) apresentadas na pré-campanha coincidem em diversos setores ¿ da educação até a política de investimentos.

A petista e o tucano divulgaram metas e prioridades quase intercambiáveis.

As diferenças, quando surgem, estão no carisma e no método. A semelhança começa nos motes usados pelos dois. Dilma, em fevereiro, lembrou o slogan do governo: ¿Queremos um Brasil para todos¿.

Serra, em abril, evocou a unidade e a inclusão: ¿O Brasil não tem dono¿. Ambos têm insistido na importância da melhoria da educação, principalmente por meio da ampliação de escolas técnicas e profissionalizantes.

¿ Temos que aumentar o gasto na educação, sim. Ou aumentamos o gasto na educação ou não iremos dar o salto necessário.

É imprescindível que a gente entenda que, sem aumentar o custeio, não tem educação de qualidade ¿ disse Dilma, em palestra para empresários na semana passada. ¿ Não basta fazer a escola mais bonita.

Serra, ao lançar sua pré-candidatura, defendeu a importância da infra-estrutura e de serviços escolares, mas disse que a prioridade é a ¿melhora do aprendizado na sala de aula¿: ¿ Serão necessários mais recursos. Mas pensemos no custo para o Brasil de não ter essa nova educação em que o filho do pobre frequente uma escola tão boa quanto a do filho do rico ¿ disse Serra, numa das poucas exceções à constante pregação por austeridade e contenção de gastos.

O tucano, porém, defende o sistema de bônus, aumentando salários por mérito. Dilma fala em fortalecimento e valorização do serviço público.

Ambos defenderam sistemas de avaliação das instituições e alardearam as ações de ampliação do sistema de escolas e faculdades técnicas. Serra fala em implantar ¿parcerias com estados e municípios¿. Dilma diz que o custeio deve ser bancado pelo governo federal, invertendo a lógica da gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Os adversários também prometem ampliação de investimentos.

Dilma, antes de deixar o cargo, lançou o PAC-2. A menina dos olhos de Serra é o Rodoanel de São Paulo. O tucano disse que o PAC é ¿apenas uma lista de obras¿, mas sua plataforma prevê mais obras para garantir o desenvolvimento ¿ teorias que não diferem das da petista.

O tucano e a petista erguem a bandeira da ampliação do investimento privado no país, especialmente pela desoneração fiscal.

Na parte pública, citam como prioridade o saneamento: Dilma promete universalização e Serra diz que ¿enterrou¿ R$ 7 bilhões para ¿semear saúde¿.

¿ O Brasil precisa de desoneração fiscal ¿ disse a ex-ministra em Porto Alegre. ¿ Fizemos o investimento saltar de R$ 1,5 bilhão entre 1995 e 2002 para R$ 11,2 bilhões nos últimos quatro anos. É o primeiro passo. A roda começa a girar.

Seu adversário também apresenta sua multiplicação: ¿ Diminuímos a carga tributária individual e desoneramos setores-chaves. Conseguimos, em valores nominais, triplicar investimentos do governo de São Paulo nesses quatro anos. Fizemos investimentos.

Vejam bem, não gastança. O maior investimento da nossa história, de R$ 64 bilhões.

A manutenção do Bolsa Família é bandeira de ambos, o que tem irritado Dilma e o PT. Serra cita o fortalecimento do programa com ações voltadas aos jovens, enquanto Dilma reconhece que há beneficiários miseráveis que só podem ser resgatados pela melhoria de vida dos filhos.

A juventude é alvo do marketing dos dois no que tange ao combate às drogas ¿ o crack é citado como ¿a maior ameaça¿.

Apesar de o tucano criticar alguns rumos da economia, fala em ampliar exportações com atuação ¿mais agressiva na conquista de mercados¿. Dilma fala em uma ¿política comercial externa do tipo da praticada nos Estados Unidos¿, ¿mais presentes, atuantes e ativos¿. Ambos já acenaram com preocupação para a concorrência desleal vinda da China, por exemplo.

Os dois defendem a inovação tecnológica, usando exemplos como a agropecuária e o setor petroquímico.

Declarações semelhantes também sobre democracia Até num dos pontos de maior atrito, as posições ideológicas sobre democracia e direitos humanos, Serra e Dilma chegaram a falar coisas semelhantes. O tucano fez um ataque indireto a Luiz Inácio Lula da Silva pela conduta nas relações com os regimes cubano e venezuelano: ¿ Direitos humanos não são negociáveis. Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no governo.

Dilma já foi questionada por sua militância e crenças na juventude e descartou ter ilusões sobre a liberdade democrática de regimes socialistas.

¿ Naquela época, começa a percepção cada vez maior de que o chamado ¿socialismo real¿ tinha problemas seríssimos de direitos humanos, de não ter a mínima liberdade ¿ disse, em entrevista na Band.

Em outro discurso, Dilma atacou Serra, lembrando que ações de sindicalistas foram reprimidas em São Paulo.

¿ É inadmissível que um democrata persiga, bata ou reprima movimentos sociais.