Título: Promessa de blindar a Petrosal
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 13/06/2009, Política, p. 6

Ministro Lobão afirma que nenhum partido indicou diretores para a estatal a ser criada a fim de gerir os recursos obtidos com a exploração do pré-sal. ¿Não haverá ingerência política na empresa¿, prometeu

Defensor da aliança com o PT, Lobão é entusiasta da candidatura da ministra Dilma Rousseff Conhecidos pela disposição para disputar cargos na máquina pública, os partidos que apoiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudaram o padrão de comportamento. É o que sugere o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB). Em conversa com o Correio, o senador eleito pelo Maranhão, hoje licenciado do mandato, disse que nenhuma legenda fez indicações até agora para a diretoria da ¿Petrosal¿, estatal a ser criada para gerenciar as bilionárias reservas de petróleo descobertas na camada do pré-sal. Nem mesmo PT e PMDB, as maiores siglas da coalizão governista, rivais em batalhas renhidas por postos de comando no setor energético.

¿Não haverá influência política na empresa. Nenhum partido procurou a mim e ao presidente da República para sugerir diretor¿, afirmou Lobão. No Palácio do Planalto e no Congresso, o discurso é harmonioso: num presidencialismo de coalizão como o brasileiro, é regra do jogo os políticos assumirem o controle de nichos da administração. Um dos generais do exército de aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que indicou diretores e presidentes de estatais do setor elétrico, Lobão declarou não considerar ¿natural¿ essa espécie de rateio. ¿Não acho que seja natural que qualquer partido queira gerir a empresa.¿ Depois, no entanto, adicionou um pouco de pragmatismo ao discurso: ¿O que não impede que haja indicação política¿.

Talentos Segundo o ministro, a Petrosal, se for criada pelo presidente Lula, terá um quadro enxuto de técnicos concursados. Ele não disse quem serão os diretores. Declarou não existirem nomes sobre a mesa. ¿Não quero colocar o carro à frente dos bois¿, declarou, acrescentando ser necessário esperar pela formalização da estatal. ¿Agora, eu promovo a caça aos bons valores desde que assumi o ministério.¿ Para exemplificar, citou a escolha de José Antonio Muniz Lopes para a presidência da Eletrobrás. Engenheiro eletricista, Muniz Lopes tem Sarney como padrinho político. Assumiu a função depois de desbancar do posto Valter Cardeal, homem de confiança da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, deslocado para a diretoria de Engenharia da Eletrobrás.

Duelo antigo No início do segundo mandato de Lula, Dilma travou uma queda de braço com o PMDB devido ao setor energético. Durante o embate, chegou a consultar o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, sobre os cargos cobiçados pelo partido, além dos nomes que os peemedebistas pretendiam indicar. A disputa terminou com vitórias e derrotas para ambos os lados. Hoje, Lobão é um entusiasta da candidatura presidencial da ¿mãe do PAC¿. ¿Eu acredito na aliança com o PT na eleição presidencial. A Dilma parece o Golbery (do Couto e Silva) na concepção e na execução política¿, afirmou o ministro, referindo-se ao grande estrategista da abertura política no regime militar. ¿Ela sabe conversar com os políticos. Tem paciência digna dos grandes líderes.¿

Nesta semana, o presidente Lula reuniu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) os ministérios envolvidos na discussão do novo marco regulatório do petróleo. A meta é enviar o texto ao Congresso em agosto. São favas contadas a criação da Petrosal e a adoção do sistema de partilha, segundo o qual explorará as reservas do pré-sal a empresa que aceitar abrir mão, em favor da União, da maior fatia da riqueza extraída. Líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP) quer discutir a proposta até na CPI da Petrobras, caso a comissão realmente saia do papel. Entre os senadores governistas, há um certo consenso sobre a ideia de usar o tema em tentativa de desviar o foco de eventuais irregularidades cometidas pela estatal.

¿Estão barateando o instituto da CPI¿, reclamou Lobão, para quem a investigação parlamentar é desnecessária. Por enquanto, a apuração no Congresso não é motivo de preocupação para o ministro. Para justificar tal posicionamento, ele lembrou do fiasco encenado quando da primeira tentativa de instalação da comissão. Na ocasião, só um oposicionista compareceu ao plenário antes de o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) encerrar os trabalhos. ¿Quando há interesse, a sessão é marcada para as 15h, e a oposição chega às 14h30.¿