Título: Amorim: sanções prejudicariam Brasil
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 27/04/2010, O Mundo, p. 27

Chanceler brasileiro expõe a autoridades iranianas riscos de programa nuclear

BRASÍLIA. Em visita a Teerã, onde será recebido hoje pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem ter saído otimista dos encontros que teve com o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, e o principal negociador do país para a questão nuclear, Said Jalili. Amorim alertou para o risco de a aprovação de sanções ao Irã prejudicar os projetos de cooperação econômica entre Brasil e Irã, principalmente no campo de novos negócios. Ele ouviu de seus interlocutores iranianos a garantia de que a política nuclear do país é para fins pacíficos, e não militares. ¿ Considerei as conversas muito construtivas ¿ disse Amorim. Iranianos temem embargo econômico As duas reuniões duraram, cada uma, cerca de uma hora e meia. As autoridades iranianas elogiaram e agradeceram a atuação do Brasil e da Turquia ao não apoiarem a proposta de sanções imediatas ao país, defendida pelos Estados Unidos e por outras nações ocidentais. ¿ O que queremos para o povo brasileiro é o que queremos para o povo iraniano, que é a expansão das atividades nucleares pacíficas ¿ disse o chanceler brasileiro. Nos encontros, Amorim lembrou que, há cerca de duas semanas, uma missão empresarial chefiada pelo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, esteve em Teerã em busca de comércio e investimentos. Os 86 empresários brasileiros, de 13 setores produtivos, foram surpreendidos com a presença de 400 homens e mulheres de negócios iranianos. O medo de um embargo econômico pela comunidade internacional ficou claro para autoridades e representantes do setor privado brasileiros. Amorim desembarcou ontem em Teerã após conversar, na Turquia, com o ministro de Negócios Estrangeiros, Ahmed Davutoglu, sobre uma possível mediação dos dois países em uma negociação entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O acordo em questão teria como princípio a troca de urânio levemente enriquecido por combustível para o reator de pesquisa do país. Ao mesmo tempo, o governo iraniano ofereceria garantias de que o urânio existente no país não está sendo usado para a fabricação de armas nucleares. De acordo com um alto funcionário que participou das reuniões, o acordo foi um dos principais temas das conversas, mas a conclusão foi de que algumas perguntas continuam sem respostas: por exemplo, quando e onde o urânio deve ser entregue, se dentro ou fora do Irã, e em que quantidade. O presidente do Parlamento iraniano disse que o país recebe com satisfação a mediação do Brasil. Ele também não ouviu de Amorim que o Brasil apoia o Irã na questão. O ministro limitou-se a dizer que defende o direito de todos terem seus próprios programas nucleares, desde que sejam para fins pacíficos. Já o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que, enquanto o Brasil tenta uma solução pacífica para a questão nuclear no Irã, outras nações estão satanizando aquele país, ao propor sanções.