Título: Vice-presidente é vítima de falso sequestro
Autor: Braga, Isabel; Braga, Ronaldo
Fonte: O Globo, 28/04/2010, Rio, p. 17

Criminoso ligou para José Alencar dizendo estar com a filha dele e exigindo resgate de R$ 50 mil, que não foi pago

RIO e BRASÍLIA. O vice-presidente da República, José Alencar, confirmou ontem ter sido vítima do trote que simula um sequestro de parentes para extorquir dinheiro. Na tentativa de golpe, o criminoso exigiu R$ 50 mil e jóias, mas o vice-presidente não pagou. Alencar contou o caso no Congresso, onde participou, emocionado, de sessão conjunta da Câmara e do Senado em sua homenagem.

Na noite do último domingo, Alencar, que estava sozinho em seu apartamento no Rio, recebeu um telefonema de um homem dizendo que sequestrara sua filha. Em seguida, uma voz feminina, chorando, chamava-o de ¿papai¿ e dizia ter sido assaltada.

Alencar disse ter acreditado que era uma de suas filhas e continuou conversando com o criminoso, como revelou ontem o ¿Jornal do Brasil¿.

Bandido estranhou ao ouvir que ligara para o vice Inicialmente, o golpista exigiu R$ 50 mil, mas, ao ouvir Alencar dizer que não dispunha da quantia naquele momento, perguntou se a esposa dele tinha jóias. Quando o vicepresidente respondeu que não, o suposto sequestrador perguntou qual a atividade profissional de Alencar.

¿ Eu respondi: sou vice-presidente da República. E ele: o quê? Eu repeti: sou vice-presidente da República. Ele então, quis saber qual o meu nome e eu disse: José Alencar Gomes das Silva ¿ disse. ¿ Eu acho que ele ficou na dúvida ( sobre ser o vice-presidente).

Segundo Alencar, sua mulher e as outras filhas do casal chegaram ao apartamento quando ele negociava com o suposto sequestrador e conseguiram telefonar para a filha, descobrindo que era um golpe. O vice-presidente disse ainda que os casos de falso sequestro são ¿altamente preocupantes¿ e que, apesar da tensão, manteve-se calmo, seguindo recomendação antiga de seu pai: ¿ O papai me ensinou que o desespero não ajuda.

A segurança da Vice-Presidência da República e a Secretaria de Segurança Publica estão apurando a origem do telefonema de falso sequestro. A secretaria ainda não sabe se José Alencar registrou a ocorrência sobre o caso, mas a polícia tem certeza de que o golpe partiu de algum presídio do Rio.

Alencar não foi a primeira autoridade da República vítima do dique-sequestro. Há quatro anos, o hoje ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, foi alvo do golpe. Ele estava em casa quando recebeu a ligação de um homem dizendo que tinha sequestrado o filho dele. O ministro, que já conhecia o golpe e estava com o filho, respondeu que não tinha filhos e deixou o falso sequestrador desconcertado. Ontem, o ministro afirmou que, se houver necessidade, a Polícia Federal poderá ajudar na investigação sobre o telefonema para o vice-presidente.

Segundo o delegado titular da Divisão Anti-Sequestro, Marcos Reimão, sua divisão não está investigando o caso do vice-presidente porque, a rigor, não houve um sequestro com pedido de resgate. De acordo com Reimão, pelo menos dois casos iguais de disque-extorsão aconteceram no Rio no fim de semana. Ontem, a DAS prendeu Cecília Nascimento, mulher do detento Edson Luís do Nascimento da Costa, que cumpre pena pelo mesmo crime no Presídio Plácido de Sá Carvalho, em Bangu. Ela acabara de receber da vítima o dinheiro do ¿resgate¿.

Policiais criticam as operadoras de telefonia Reimão disse, ainda, que apenas um caso de sequestro e extorsão por telefone foi registrado no Rio, no último ano.

Um jovem de 17 anos acabou sendo realmente sequestrado ao levar um computador para entregar como resgate aos homens que, pelo telefone, diziam ter sequestrado sua irmã. Dias depois, a DAS conseguiu resgatar o jovem do cativeiro.

Investigadores da DAS criticaram o atual modelo adotado pelas operadoras de telefonia móvel do país. Segundo eles, as empresas permitem que clientes estejam cadastrados em seus bancos de dados sem informações básicas. Reimão concorda com as críticas: ¿ A parte financeira está acima de todos e de tudo. Nos casos policiais, as vítimas de golpes diversos estão sempre em perigo iminente. Não podemos aguardar períodos, que se prolongam, que as empresas pedem para levantar dados.

Além da demora do Judiciário, ainda precisamos esperar as operadoras ¿ disse.

COLABOROU: Jailton de Carvalho