Título: Para analistas, Brasil está mais bem preparado para enfrentar turbulência
Autor: Villas Bôas, Bruno; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 28/04/2010, Economia, p. 20

Ex-ministro teme desvalorização do real, porque pressionaria inflação e juros

De uma tacada só, a agência de classificação de risco Standard & Poor¿s rebaixou ontem a nota de Grécia e de Portugal, criando um temor de que a crise grega esteja se espalhando pela Europa e possa ter consequências globais. Porém, há um consenso entre os analistas de que a turbulência atual deve ser bem menos intensa do que a crise de setembro de 2008, provocada pela quebra do Lehman Brothers.

E o Brasil, por sua vez, será também menos afetado.

É que ficou provado, segundo o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, que o Brasil está mais bem preparado. O ex-ministro, hoje sócio da Tendências Consultoria, está convencido de que o risco agora é de uma desvalorização do real.

Se isto a ocorrer, diz ele, poderia provocar nova pressão inflacionária, o que alimentaria o ciclo de alta dos juros.

¿ Não acredito que a União Europeia vai deixar a sangria da Grécia continuar depois dos eventos de hoje (ontem).

Se o salvamento demorar mais, os problemas podem extravasar e virar uma hemorragia que atingirá a Europa como um todo ¿ afirmou o economista.

Maílson defende uma maior participação do Fundo Monetário Internacional (FMI) no socorro ao país, num valor acima do aporte previsto até semana passada de C 15 bilhões, além da própria ajuda financeira da União Europeia: ¿ Eu acredito em que haverá salvamento da Grécia, sob risco de se colocar o euro em dúvida. O euro é uma jornada sem direito a retorno. Por isso, é preciso agora decisões rápidas e ações firmes.

Leste da Europa atraiu investimentos de Portugal

O economista Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por sua vez, acredita que a turbulência detonada pela decisão da S&P de rebaixar a nota de Grécia e Portugal evidencia os problemas do bloco, que nasceu como um projeto político, e não conseguiu evoluir para constituir-se como uma confederação de estados.

¿ Os países da União Europeia não têm autonomia para mexer no câmbio nem nos juros.

Só o Banco Central Europeu pode fazer isso. Resta apenas trabalhar com política fiscal, e fazer ajustes é sempre muito difícil ¿ avalia Prado, acrescentando que, apesar dessas dificuldades, não há risco de a União Europeia acabar.

Prado avalia que a inclusão dos países do Centro e Leste da Europa ao bloco, nos últimos anos, agravou problemas internos, porque os países tradicionalmente mais carentes de investimentos externos, como Portugal, por exemplo, tiveram que passar a disputar os recursos com várias outras nações.