Título: Belo Monte: divisão estratégica da obra
Autor: Barbosa, Flávia; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 28/04/2010, Economia, p. 22

Construtoras do consórcio vencedor apostam que as três grandes empreiteiras ficarão de fora

BRASÍLIA. As seis construtoras do consórcio Norte Energia, que venceu a disputa para operar Belo Monte, apostam na obrigatória divisão da obra em blocos para retirar competitividade das três grandes empreiteiras ¿ Camargo Corrêa, Odebrecht e Andrade Gutierrez ¿ e abortar a entrada do grupo na engenharia civil do empreendimento. Esta é avaliada em pelo menos R$ 14 bilhões dos R$ 19,6 bilhões do orçamento da usina. Elas acreditam que, se Belo Monte tiver cinco frentes de trabalho, o que daria menos de R$ 3 bilhões por cada, as gigantes não terão como oferecer o menor preço e ficarão fora da maior obra do país.

¿ Não tem como você contratar um pacote fechado em Belo Monte, com toda a obra.

Você terá que fazer em blocos, o que significa que vai ficar algo como 20% da engenharia civil para cada empresa. São R$ 3 bilhões, o valor de uma refinaria, não R$ 19 bilhões. Não sei se elas (Camargo, Odebrecht e Andrade) têm interesse e condições ¿ explica uma fonte que acompanha com lupa as negociações.

A entrada da Camargo, da Odebrecht e da Andrade na Sociedade de Propósito Específico (SPE) ¿ que assinará a concessão da usina ¿ está fora de cogitação, na avaliação das empreiteiras do consórcio. Isso porque as seis sócias ¿ Queiroz Galvão, Mendes Junior, J. Malucelli, Serveng-Civilsan, Contern e Cetenco ¿ têm hoje 40% do empreendimento e, por lei, a participação terá que cair a 20%.

Como não se trabalha com desistências, e há vontade de várias sócias de aumentar sua participação na usina, não haveria espaço para adesões.

As seis acreditam ainda que, como sócias, poderão reduzir custos de construção, pois atuariam em causa própria. Quanto mais barata a engenharia civil, maior será a geração de caixa do negócio, que é a venda de energia a R$ 77,97 o megawatt hora.

¿ O negócio vai depender da construção. Tem que economizar muito para gerar dinheiro na concessão. A nossa cabeça é de sócio. A SPE vai fazer uma cotação a cada fase da obra e contratar pelo menor custo, seja lá quem for ¿ disse ao GLOBO o executivo de uma das empreiteiras do Norte Energia.

O grupo tem um aliado de peso: o Palácio do Planalto. Furioso com Camargo e Odebrecht ¿ que desistiram 15 dias antes do leilão ¿ o presidente acredita que as demais construtoras podem atuar associadas.

A Eletrobras ¿ controladora da Chesf, estatal que integra o Norte Energia ¿ negocia com as outras sete empresas a antecipação, de setembro para julho, da outorga da usina. Este é o momento no qual o grupo se tornará concessionário e poderá começar a tocar as obras. Perguntado sobre essa possibilidade, o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, não negou.

Sem falar em datas, lembrou que qualquer contrato de concessão depende de que as empresas preencham os pré-requisitos.

¿ Se resolverem tudo antes não tem por que o governo não assinar. É muito bom para a empresa, pelo fluxo de caixa antes do previsto.

Técnicos advertem, porém, que o início das obras depende também do Ibama.

O adiantamento da outorga terá de ser solicitado à Aneel. Se aprovado, o Norte Energia poderá antecipar a operação da usina, prevista para 2015, e vender por preços maiores a energia produzida até a data acertada com a União no mercado livre.