Título: Brasileiros presos após atentado
Autor: Yafusso, Paulo
Fonte: O Globo, 28/04/2010, O Mundo, p. 25

Paraguai investiga ligação de facção criminosa de SP com ataque a senador no país

CAMPO GRANDE, MS Dois brasileiros foram detidos no Paraguai na noite de anteontem, suspeitos de terem participado do atentado ao senador liberal Robert Acevedo ¿ que deixou o político ferido e seu motorista e segurança mortos. De acordo com o serviço de inteligência local, os dois poderiam ter ligação com a maior facção criminosa de São Paulo. O atentado aconteceu um dia depois de entrar em vigor o estado de exceção de 30 dias decretado pelo presidente Fernando Lugo em cinco províncias do país. O regime é uma estratégia do governo para sufocar o Exército do Povo Paraguaio (EPP), um grupo armado que se autoproclama de esquerda, suspeito de realizar uma série de sequestros.

Para o senador, o atentado foi armado por grupos criminosos, revoltados com seu trabalho de combate ao narcotráfico.

¿ Foram os narcotraficantes do Paraguai e do Brasil que contrataram pistoleiros brasileiros por US$ 300 mil para me executar. Eles chegaram aqui de avião, patrocinados por esses narcotraficantes ¿ afirmou Acevedo, em entrevista à TV Morena, afiliada da Rede Globo em Mato Grosso do Sul. ¿ Os grandes narcotraficantes do Brasil, Paraguai, Bolívia, Espanha e Estados Unidos estão nervosos com essas grandes apreensões, como a que ocorreu recentemente na Alemanha, somando 1.300 quilos de cocaína.

Segundo o chefe de polícia do departamento de Amambay, Francisco González, os brasileiros, que se identificaram como Eduardo da Silva, de 27 anos, e Nevailton Marcos Cordeiro, de 34 anos, foram detidos sem a documentação necessária para estar no país, durante uma incursão à casa onde estavam alojados em Juan Pedro Caballero. As prisões, realizadas perto da fronteira com a cidade brasileira de Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, foram facilitadas pelo estado de exceção em Amambay, que permite detenções sem mandatos judiciais.

A região é apontada como produtora de maconha. Os brasileiros negaram envolvimento com o atentado.

Corpos alvejados protegeram senador

Segundo o ministro do Interior, Rafael Filizzola, o atentado contra o senador foi um ¿ataque da máfia contra o Estado paraguaio¿. O juiz federal Odilon de Oliveira, que, assim como Robert Acevedo, sempre foi odiado pelas quadrilhas do crime organizado na fronteira com o Paraguai, disse acreditar que o atentado foi obra do tráfico. De acordo com ele, era sabido na região de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero que a cabeça do senador estava cotada a mais de US$ 300 mil.

¿ Acho que foi um consórcio de narcotraficantes que patrocinou esse atentado, mas os mandantes são narcotraficantes internacionais ¿ disse o juiz, que também vive sob ameaça e, por isso, há anos anda sob proteção da Polícia Federal.

O senador estava voltando da prefeitura para casa quando sua caminhonete foi abordada por um outro veículo em que estavam os atiradores. Mais de 40 tiros foram disparados pelo lado do motorista, e os corpos do chofer e do segurança, mortos à queima roupa, ajudaram a proteger o senador do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), aliado do governo.

¿ Estouraram o crânio do meu motorista e do policial que fazia a minha segurança ¿ contou Acevedo, ferido no braço, dentro do Hospital San Lucas, protegido por forte esquema de segurança. ¿ Deus e a Virgem permitiram que os disparos não alcançassem meus órgãos vitais.

O irmão do senador, José Carlos Acevedo, prefeito de Pedro Juan Caballero, disse que o governo paraguaio designou policiais de Assunção para ajudar nas investigações. Para ele, o atentado não tem nenhuma ligação com as ações da EPP, e sim com narcotraficantes.

Em 2005, quando era governador do departamento de Amambay, Robert Acevedo escapou de uma sabotagem. O avião no qual ele estava se preparando para voar teve a mangueira de combustível cortada.

Mais de mil policiais e militares já haviam sido designados para atuar nos cinco departamentos em estado de exceção. Cerca de 300 mil brasileiros, os chamados brasiguaios, vivem na região perto da fronteira com o Brasil, em grande parte ligados à produção agrícola. Muitos reforçaram medidas de segurança nos últimos dias.

Com agências internacionais