Título: Brasil tem 8 milhões de armas, aponta estudo
Autor: Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 29/04/2010, O País, p. 16

Pesquisa alerta para falta de controle do armamento em poder de empresas de segurança e colecionadores

SÃO PAULO. Pesquisa divulgada pelo Instituto Sou da Paz aponta a existência no Brasil, em 2009, de 8.080.295 armas cadastradas no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), gerenciado pela Polícia Federal, e no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma). Desse total, 7.313.227 de armas estavam registradas em nome de civis, empresas de segurança privada, transporte de valores, corporativas e nomes pessoais de agentes da Polícia Civil, Federal e das Guardas Municipais.

Para a organização, preocupa a quantidade de armas com colecionadores e empresas de segurança, sobre as quais falta controle do poder público. O estudo analisou o impacto da implementação do Estatuto do Desarmamento, promulgado em dezembro de 2003.

Mais de 150 mil armas com colecionadores

No total de armas contabilizadas como legalizadas estão incluídas as 1.885.910 armas apreendidas. Outras 613.546 armas pertencem a policiais militares e integrantes do Corpo de Bombeiros, das quais 376.148 pertencem às corporações (PM) e 231.335 são armas particulares dos policiais.

Outras 154.522 armas são de colecionadores, atiradores, caçadores e 41.277 armas estão nos fóruns, como parte de processos.

O número não inclui armas em poder das Forças Armadas ou seus integrantes. Já a quantidade de armas destruídas pelo Exército entre 1997 e 2008 é de cerca de 1,9 milhão.

Segundo o Sou da Paz, é precário o controle das 154 mil armas de fogo nas mãos de colecionadores (66.400), atiradores (77.805) e caçadores (10.317).

O trabalho do Instituto Sou da Paz foi feito por meio de pesquisas e entrevistas com representantes do Exército e das polícias Civil, Militar e Federal de nove estados, além do Distrito Federal, nos anos de 2008 e 2009. O estudo diz ainda que o Exército não divulga como são concedidos registros de armas a colecionadores e critica o fato de as visitas do Exército para fiscalização de arsenais serem anunciadas com antecedência.

¿A presença de armas não afugenta criminosos¿

O Instituto Sou da Paz diz que falta controle sobre empresas privadas de segurança e chama atenção para o fato de que muitas vezes armas encontradas com bandidos pertencem a essas companhias.

Segundo a ONG, em 2010 era grande não só o montante das armas regularmente registradas em nome de empresas de segurança privada em São Paulo (69 mil), como também o volume de armas furtadas e roubadas de empresas (21 mil). De acordo com o instituto, os números podem dar razão às teses que apontam que muitas empresas servem de fachada para organizações criminosas ou para facilitar o acesso destas às armas de fogo.

¿ A presença de armas num local não afugenta criminosos, pelo contrário, estimula.

É impossível afirmar que as empresas estão agindo de máfé, mas é preciso abrir investigações, porque a coisa é séria ¿ afirma o diretor do Instituto Sou da Paz, Denis Mizne.

A criação de um banco de dados balísticos, com a ¿impressão digital¿ que cada arma de fogo cria em projéteis ao ser disparada, ainda não saiu do papel. A organização dele é determinação do Estatuto do Desarmamento. Entre os pontos positivos depois da criação do Estatuto está a queda do número de homicídios no país ¿ uma queda de 12% entre 2003 e 2006.

¿ A gente está melhor hoje que em 2003, mas ainda não à altura da lei. Os problemas colocam em risco a eficácia do Estatuto do Desarmamento a longo prazo ¿ disse Mizne.

O Estatuto do Desarmamento tornou mais rígidas a venda e a utilização de armas de fogo e munição. Enquanto em 2002 havia 2.400 estabelecimentos que comercializavam armas em todo o país, em 2008 apenas 280 deles continuavam funcionando.