Título: Doleira: Universal mandou R$ 400 milhões ao exterior
Autor: Roxo, Sergio
Fonte: O Globo, 29/04/2010, O País, p. 17

Investigação é feita no Brasil e nos EUA; igreja nega

SÃO PAULO. A Igreja Universal do Reino de Deus é acusada de ter enviado, de forma ilegal, cerca de R$ 400 milhões para o exterior entre 1995 e 2001. A denúncia foi revelada ontem pelo jornal ¿O Estado de S.Paulo¿ e tem como base o depoimento da doleira Cristina Marini ao Ministério Público Estadual.

De acordo com a reportagem, a Universal fazia, no período, remessas mensais de R$ 5 milhões por meio da casa de câmbio Diskline, da qual Cristina Marini é uma das sócias.

O sistema usado era o dólarcabo em que o doleiro recebe dinheiro vivo do cliente em reais no Brasil e faz o depósito do valor correspondente em contas bancárias no exterior.

Cristina contou que foram usadas nas transações com a igreja contas nos Estados Unidos e em Portugal. Afirmou ainda que uma das contas que recebeu dinheiro tinha o nome de ¿Universal Church¿. A doleira disse ao Ministério Público que a igreja fazia os pagamentos por meio de malotes entregues por caminhões, mas revelou ainda que chegou a pegar dinheiro em espécie em subterrâneos de templos da Universal no Rio.

Para ser beneficiada pela delação premiada, Cristina Marini teria decidido colaborar com as investigações. Procurado pelo GLOBO, o advogado da doleira, Alberto Tichauer, informou que não comentaria o depoimento de sua cliente porque a investigação está sob segredo de Justiça.

O depoimento de Cristina Marini foi dado na terça-feira à Promotoria do Patrimônio Público e Social do Ministério Público Estadual de São Paulo. Essa investigação está sob responsabilidade do promotor Saad Mazloum, que afirmou ao GLOBO que não fala sobre o caso. A investigação pode resultar em uma ação na esfera cível contra a igreja e seus dirigentes. No caso, não caberia prisão, apenas bloqueio de bens.

Primeiras remessas teriam sido em 1991

Segundo o ¿Estado¿, Cristina afirmou, no depoimento aos promotores, que mantinha contato com uma mulher que seria secretária do bispo Edir Macedo, chefe da Universal. Ela revelou que fez as primeiras remessas de dinheiro para a igreja ao exterior em 1991, mas as transações se intensificaram no período de 1995 a 2001. A doleira também teria prestado depoimento e feita as mesmas acusações em uma investigação contra igreja da Promotoria da cidade de Nova York, nos Estados Unidos.

Dez membros da cúpula da Universal, entre eles o bispo Edir Macedo, são réus em ação penal por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro desde agosto de 2009. De acordo com investigação do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado do Ministério Público, o dinheiro doado por fiéis era enviado ao exterior e voltava ao país por meio de empresas de fachada em nome de dirigentes da igreja.

O advogado Antônio Sérgio Altieri de Moraes Pitombo, que defende a Universal, disse que a divulgação das novas acusações contra a instituição feitas pela doleira Cristina Marini não passam de uma represália: ¿ Sempre que entro com medida para anular a investigação, surge alguma coisa de escândalo.

Pitombo disse ainda que não teve acesso ao depoimento.

¿ Não sei onde estão essas delações. Estou tentando achar o documento.

O advogado da Universal desqualificou as acusações: ¿ A inverossimilhança (das acusações) é evidente. A palavra de doleiros que fazem delação deve ser tomada com reserva.

Não vou comentar sem ter acesso à denúncia.