Título: Aperto monetário pode se estender até 2011
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 29/04/2010, Economia, p. 26

CORPO A CORPO CRISTIANO SOUZA

Para Cristiano Souza, economista do Grupo Santander Brasil, a forte atividade da economia do Brasil pode fazer o Banco Central (BC) estender o aperto monetário até 2011.

Como consequência do combate à inflação, o economista diz que a economia brasileira irá crescer menos em 2011.

O GLOBO: Qual é o impacto do aumento dos juros básicos na economia?

CRISTIANO SOUZA: Imediatamente não haverá impacto. O consumidor e as empresas só irão perceber o juro maior a partir de outubro. Antes disso, não. Mas, para o crescimento da economia ser afetado, será preciso uma série de elevações dos juros básicos.

E é o que deve acontecer. Por isso, só haverá desaceleração da atividade em 2011, possivelmente a partir do segundo trimestre.

Este ano, projeto um crescimento do país em 5,8%. Em 2011, o avanço será de 4,5%, já com o efeito da Selic. Se os juros se mantivessem no atual patamar, a variação no próximo ano seria semelhante ao que estamos projetando para 2010.

O Comitê de Política Monetária (Copom) não elevou os juros em março, e a inflação continuou avançando. O aperto monetário poderá ser maior, se estendendo até 2011?

SOUZA: O Copom mesmo disse que deveria ter aumentado os juros na reunião de março.

Eles estão uma reunião atrasados. A recuperação da economia começou a ganhar muita força no quarto trimestre de 2009. Este ano, o crédito e os salários aumentaram. A inflação corrente também está avançando. Um exemplo é olhar os serviços. Nos últimos 12 meses, até abril, os preços dos serviços acumulam alta de 7%. A causa não é chuva nem dólar. Com mais demanda, todos estão cobrando mais caro. Mas esse cenário já era esperado em março. A decisão de aumentar a Selic em 0,75 ponto percentual era esperada. Essa era a nossa projeção. Se o aumento fosse maior, o Banco Central (BC) iria continuar atrás da curva. Se os juros chegarem a 12% no fim do ano, e essa é a minha projeção, será apenas uma taxa neutra com uma inflação de 5,5%, que ainda assim fica acima da média. Há uma possibilidade, pela força da atividade da economia no país, de o BC elevar os juros ainda em 2011. Mas essa não é a minha projeção hoje.

O maior nível de juros da economia pode atrair mais investimentos estrangeiros para o Brasil? Segundo a consultoria Uptrend, com a nova Selic, o Brasil tem juro real (acima da inflação) de 4,2% ao ano, a maior do mundo.

SOUZA: Com a crise na Europa, envolvendo países como Portugal, Espanha e Grécia, a liquidez, além do volume de capital, está menor. Nesse ambiente, os investidores internacionais estão buscando segurança no momento, comprando títulos do Tesouro americano, tidos como a aplicação mais segura do mundo, e evitando buscar retornos maiores em países como o Brasil.