Título: Espanha é rebaixada e Grécia pode receber ¿ 120 bi
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 29/04/2010, Economia, p. 27

RISCO EUROPEU: Temor de contágio derruba bolsas europeias. Bovespa sobe 0,22% e dólar recua para R$1,753

MADRI, ATENAS, BERLIM, NOVA YORK e RIO. Um dia depois de rebaixar as notas de crédito de Grécia e Portugal, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) cortou ontem a nota da dívida de longo prazo da Espanha, reforçando o temor de contágio da crise na Europa. A notícia voltou a derrubar as bolsas europeias, mesmo com a possibilidade de o pacote de ajuda à Grécia chegar a 120 bilhões em três anos, segundo disseram parlamentares alemães ontem. Originalmente, o socorro - que vem sendo negociado entre os membros da zona do euro e o Fundo Monetário Internacional (FMI) - seria de 45 bilhões.

O anúncio do rebaixamento da Espanha fez a Bolsa de Madri cair 2,99%. As principais praças europeias também fecharam em queda, com Milão liderando as baixas (-2,43%). Paris perdeu 1,5% e Lisboa, 1,89%. Atenas, porém, que havia despencado 6% na véspera, subiu 0,63% ontem.

S&P revisa para 0,7% expansão do PIB espanhol

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), chegou a recuar 0,89% com o rebaixamento da Espanha, mas bons resultados corporativos e a alta no mercado americano fez o índice se recuperar e fechar em alta de 0,22%, aos 66.655 pontos. O dólar comercial caiu 0,68%, a R$1,7530, devolvendo parte da forte alta (1,15%) de anteontem.

- A revisão do rating da Espanha era esperado. A Bovespa passou por cima da Espanha. Foi um dia de ajustes, depois das perdas de terça-feira (quando o Ibovespa caiu 4,35%) - afirmou Leonel Pitta, analista da Lopes Filho Associados.

O balanço do Bradesco puxou as ações do setor bancário. Fecharam em alta Itaú Unibanco (2,54%), Banco do Brasil (2,05%) e o próprio Bradesco (1,79%). O Ibovespa foi influenciado ainda pela alta de 0,48% do índice Dow Jones da Bolsa de Nova York, refletindo a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de manter a taxa de juros do país entre zero e 0,25%.

Também ontem, o Banco Central (BC) informou que o fluxo cambial - entrada e saída de moeda estrangeira do país - voltou a ficar positivo na semana passada, com entradas líquidas de US$968 milhões. Porém, no acumulado de abril, até o dia 23, há déficit de US$9 milhões.

Em comunicado, a S&P afirmou ter rebaixado a classificação da Espanha de AA+ para AA devido à deterioração de sua situação orçamentária e às frágeis previsões econômicas. A agência reviu sua projeção de crescimento do país de 1% ao ano, em média, entre 2010 e 2016, para 0,7%. O grau de investimento (chancela de investimento seguro) da Espanha, porém, foi mantido.

A S&P informou que a perspectiva para o país é negativa, o que significa que novos rebaixamentos são possíveis. Diante do relatório, a vice-presidente de Governo da Espanha, María Teresa Fernández de la Vega, tentou acalmar o mercado afirmando que o país "está adotando todas as medidas para cumprir nossos compromissos". O déficit fiscal espanhol ficou em 11,2% do PIB em 2009, abaixo dos 3% exigidos pela União Europeia.

Portugal antecipa medidas de austeridade para 2010

Enquanto investidores enfrentavam mais um dia de baixa nos mercado europeus, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, e a chanceler alemã, Angela Merkel, acertavam detalhes do socorro à Grécia em Berlim. Segundo o líder do Partido Verde no Parlamento da Alemanha, Juergen Trittin, que acompanha as conversas, a ajuda poderá ser de 100 bilhões a 120 bilhões. Anteontem, o "Financial Times" revelara que o FMI avaliava elevar sua fatia no resgate, aumentando a soma total para 55 bilhões, ante 45 bilhões iniciais.

Sem dar detalhes sobre o plano, Strauss-Kahn alertou para a urgência do socorro:

- Todo dia perdido é um dia em que a situação piora mais.

O pacote deve ser apreciado pelos países membros da zona do euro em 10 de maio. Talvez a tempo de salvar a Grécia, mas não de conter o contágio. Para um funcionário da OCDE, a crise grega é como o vírus ebola:

- Quando se percebe que está com ele, tem que cortar a perna para sobreviver.

Na avaliação do "FT", a crise pode respingar sobre a Irlanda, pois o país é "vulnerável a estresses externos nos mercados financeiros". Numa tentativa de conter o contágio, Portugal antecipou seu plano de austeridade fiscal de 2011 para 2010. Entre as medidas está menos gasto com seguro-desemprego.

(*) Com agências internacionais