Título: 'O tráfico vem se refugiar aqui'
Autor: Freire, Flávio; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 29/04/2010, O Mundo, p. 33

Com o rosto marcado por estilhaços de vidros e escoltado por policiais que ganham salários entre US$100 e US$300, o senador Robert Acevedo, vítima de um atentado atribuído a uma facção do narcotráfico paulista, fez ontem revelações mostrando que crescem a influência e a atuação da organização criminosa brasileira no Paraguai. Segundo ele, o grupo já cooptou até policiais, e pelo menos 100 integrantes conseguiram, pagando suborno, regularizar sua situação no país para ficar mais perto dos narcotraficantes que os contratam. No hospital, Acevedo disse estar com medo. "Não dá para brincar com essa gente".

O senhor acredita ter sido vítima de uma organização criminosa brasileira?

ROBERT ACEVEDO: Os grandes traficantes precisam dessa organização não só para distribuir droga, mas para matar quem está no caminho deles. Eles (brasileiros) estão matando por encomenda.

É possível afirmar que o número de integrantes dessa organização está aumentando no Paraguai?

ACEVEDO: Hoje tem mais de 200 pessoas desse grupo vivendo aqui em Pedro Juan Caballero. Isso aqui virou um paraíso para eles. Eles compram documentos para imigração, identidade, casa, carro. Estão presentes até dentro da polícia paraguaia. Muitos policiais estão sendo presos transportando droga, e admitem ter relação com o grupo.

Mas por que o Paraguai virou alvo da facção?

ACEVEDO: A pressão que o Brasil está fazendo nas favelas do país faz com que os traficantes venham para o Paraguai se refugiar. Aqui, trocam os documentos.

O senhor está sentindo medo?

ACEVEDO: Dá medo, sim. Não dá para brincar com essa gente. Mas vou continuar em Pedro Juan Caballero porque tenho um compromisso com o povo daqui.

Tem recebido novas ameaças?

ACEVEDO: Não. Mas agora terei que reforçar a segurança, a minha e a de minha família. (F.F.)