Título: 'O câmbio está errado e muito valorizado'
Autor: Rosa, Bruna
Fonte: O Globo, 30/04/2010, Economia, p. 26
Apesar de o Brasil ter atravessado bem a crise, o país está em situação mais frágil que há dois anos, antes da turbulência financeira que derrubou os mercados globais. Para José Alfredo Lamy, sócio-gestor da Cenário Investimentos, isso ocorre devido ao déficit em conta corrente, que bateu recorde no primeiro trimestre.
O dólar atingiu a menor cotação desde janeiro. Qual é a tendência da moeda?
JOSÉ ALFREDO LAMY: O câmbio está errado e muito valorizado. Em algum momento será corrigido. A política de juros zero dos EUA está gerando essa distorção. Países exportadores de commodities como Brasil, Austrália e Canadá estão vendo suas moedas se valorizarem. E essa política americana não mudará a curto prazo. O Brasil está caro e o déficit em conta corrente é mais uma expressão disso.
O aumento dos juros no Brasil pode derrubar ainda mais a cotação do dólar?
LAMY: Isso reforça a tendência, mas não é o ponto fundamental. É preciso ficar atento aos sinais externos. Hoje, a crise na Europa está localizada. Mas, quando um dos monstros acordar, o Brasil estará em situação mais frágil que há dois anos, porque passou de superávit em conta corrente para déficit. Isso significa que o Brasil precisa de um volume de recursos maior para fechar as contas. Se o mercado está de bom humor, não há problema, porque o dinheiro dos estrangeiros chega ao Brasil. Mas se há mau humor, a situação se inverte.
Como, então, ficar menos dependente do investimento estrangeiro ?
LAMY: O governo teria de reduzir os gastos e o déficit fiscal. E estamos na tendência contrária.
Qual é a previsão para o dólar?
LAMY: Isso vai depender de quando os EUA vão continuar com a política de juros zero. Os EUA estão em um processo de "reinflacionar" a economia, para trazer inflação e crescimento. É, no entanto, preciso tomar cuidado, pois as correções do dólar são muito rápidas. (Bruno Rosa)