Título: Para especialistas, resultado da mediação
Autor:
Fonte: O Globo, 30/04/2010, O País, p. 10
Segundo analista, desgaste do governo dos EUA com países emergentes também ajudou
Alessandra Duarte e Adauri Antunes Barbosa
RIO e SÃO PAULO. Para pesquisadores da área de política externa, a mediação autônoma assumida pelo Brasil no governo Lula é o que explicaria a inclusão do presidente entre os 25 líderes mais influentes do mundo pela "Time". Segundo os analistas, apesar das críticas à aproximação de Lula com Venezuela, Cuba e Irã - o jornal "Financial Times" recentemente afirmou que tal aproximação poderia pôr em risco a presença do Brasil no Conselho de Segurança da ONU -, o fato de Lula manter o diálogo tanto com outros países emergentes quanto com as nações desenvolvidas o levaria a esse destaque.
Professora de pós-graduação do Núcleo de Estudos Internacionais da UFRJ, Ingrid Sarti diz que uma das razões para Lula estar na lista da "Time" é a autonomia que a política externa brasileira teria adquirido.
- A autonomia mostra que o país pode se relacionar com qualquer outra nação, seja Estados Unidos ou Irã, sem se submeter aos interesses dos interlocutores - diz Ingrid, para quem a maior importância que tem sido dada às economias emergentes, sobretudo após o Brasil e outros emergentes terem respondido bem à recente crise internacional, é outro fator.
Para Maurício Santoro, professor de relações internacionais da FGV, a aproximação de Lula com Hugo Chávez e o regime cubano teria menos peso do que o diálogo com o Irã:
- Venezuela e Cuba têm peso mais regional. Já o contato com Irã tem impacto internacional. É o ponto mais controverso da política externa brasileira hoje - diz Santoro, dando, porém, outro motivo para o peso do Brasil. - A política externa unilateral do governo Bush desgastou os EUA com os emergentes. Agora, Obama está tentando se reaproximar deles via Lula e a mediação dele entre os emergentes.
Para o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp, Lula conseguiu fazer a interlocução entre os pobres, como trabalhador, e os ricos, como presidente e líder mundial. Para ele, Lula foi beneficiado pela importância que o Brasil passou a ter em âmbito mundial a partir dos anos 90, com o governo Fernando Henrique. Mas, observou, o atual presidente tem mais facilidade de comunicação.