Título: Sarney resolve demitir diretor
Autor: Torres, Izabelle; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2009, Política, p. 2

Para aplacar a crise dos atos secretos, presidente do Senado decide substituir José Alexandre Gazineo, atual diretor-geral da Casa

Sufocado por um novo escândalo e com os adversários políticos a postos para tentar lhe puxar o tapete, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), resolveu agir rápido. Reuniu assessores, ouviu aliados e decidiu substituir o atual diretor-geral da Casa, José Alexandre Gazineo, a fim de tentar frear a crise dos atos secretos. Sarney pretende colocar no lugar de Gazineo um servidor de carreira, sem ligações com o grupo liderado pelo ex-diretor Agaciel Maia e que não represente facções de funcionários. Na falta de um nome com esse perfil, e diante da intensa pressão dos diferentes grupos da Casa para interferir nas indicações, Sarney não descarta a possibilidade de escolher alguém de fora do Senado.

Ontem, o senador pediu a assessores de confiança que analisem nomes, fichas profissionais, o histórico de relações internas dos postulantes e lhe apresentem uma lista. Deixou claro que não pretende repetir o erro de trocar o atual ocupante do cargo por pessoas com potencial para, mais tarde, protagonizar a reedição de escândalos. Gazineo é a opção que está mais ao alcance das mãos do peemedebista, pressionado pela opinião pública. O diretor-geral se enfraqueceu após a revelação, pelo Correio, de que beneficiou, com uma nomeação para cargo comissionado, um servidor investigado por fraudes em licitações.

Além disso, descobriu-se que Gazineo tirou proveito dos atos secretos ao ser indicado para compor comissão especial, na qual recebeu adicional salarial de até R$ 2,6 mil, com ¿efeitos financeiros¿ retroativos a 10 meses. A decisão de afastar o atual diretor não representa apenas a mera disposição de Sarney de abafar a crise. O foco do presidente é enfraquecer o movimento de articulação de senadores contra sua permanência no cargo. Nos bastidores, parlamentares ensaiam discursos pela renúncia de Sarney. Alegam que as nomeações de parentes dele por atos secretos não lhe dão condições de continuar no cargo.

A ofensiva sobre Sarney também decorre do fato de, sob sua gestão, ter sido criada a estrutura investigada por suspeitas de irregularidades. Os nomes dos consultores Fábio Gondim e Bruno Dantas, ambos dos quadro de funcionários efetivos, são ventilados como eventuais candidatos ao posto de diretor-geral caso a substituição de Gazineo seja, de fato, o caminho trilhado por Sarney. Não será, porém, um processo tranquilo. Há resistências internas contra a dupla. Além disso, o presidente sofrerá pressão pela manutenção de toda uma estrutura montada ao longo de 15 anos.

Boi de piranha Existe ainda o fator político-partidário. A indicação de Gazineo como o bode expiatório da crise não estanca a sangria instalada na Casa. Além da disputa travada entre grupos de funcionários, o momento vivido pelo Senado expõe as feridas abertas desde a eleição de fevereiro, quando Sarney foi eleito presidente da Casa. Insatisfeitos com a derrota, apoiadores da candidatura do petista Tião Viana (AC), incluindo representantes dos PSDB, partiram para a guerra nos bastidores. É o que alegam aliados de Sarney.

No feriadão, o petista foi apontado como um dos incentivadores da reunião suprapartidária para tratar da matéria. O gesto foi interpretado como tentativa de retomar espaço político e, assim, cavar uma nova candidatura à Presidência da Casa. O problema é que Tião não amealhou um só voto que lhe garanta a vitória ou mesmo assegure uma candidatura. Em plena crise, todos aqueles que apoiaram Sarney continuam ao lado dele (leia mais ao lado).

Entre os senadores, há quem veja a retomada do velho clima que colocou em campos opostos PT e PMDB, em janeiro. De um lado, o grupo de Sarney. De outro, o dos petistas. A equação dos bastidores indica que ou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta do Cazaquistão disposto a arbitrar essa briga, ou a disputa vai contaminar as votações neste um ano e meio que resta de mandato.