Título: Socorro histórico
Autor:
Fonte: O Globo, 03/05/2010, Economia, p. 18

RISCO EUROPEU

Resgate à Grécia de 110 bilhões busca frear contágio na zona do euro

ATENAS, BERLIM e BRUXELAS

No maior socorro já concedido por organismos multilaterais a um país, a Grécia fechou ontem um acordo que prevê financiamentos recordes de 110 bilhões em três anos. O pacote, negociado com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), visa a salvar o país de sua gigante crise de dívida pública - que já pode estar perto de 150% do PIB -, ainda frear abalos financeiros na zona do euro, a começar por Portugal e Espanha e proteger a moeda única do bloco. Em contrapartida, a Grécia precisará cumprir rígidas medidas de austeridade, que incluem congelamento de salários e mais impostos, que levariam o país a um corte orçamentário de 30 bilhões em três anos. A população, contudo, não ficou nada satisfeita com os sacrifícios para a obtenção do resgate e, ontem mesmo Atenas foi palco de protestos de milhares gregos.

Sindicatos planejam greves gerais

Dos 110 bilhões, 80 bilhões serão bancados pelos 16 países da zona do euro a um taxa de juros ao redor de 5% - metade do juro exigido pelos mercados na semana passada para a compra de títulos da dívida grega, mas quase dois pontos percentuais acima da exigida dos bônus alemães, referência do mercado europeu. O restante a juro menor virá do FMI. Ainda neste ano, a Grécia receberá 30 bilhões da zona do euro. O país receberá os primeiros recursos antes do dia 19, quando o governo grego tem de honrar 8,5 bilhões em dívida. Para tanto, os parceiros europeus se reunirão na próxima sexta-feira para liberar o resgate, após aprovação parlamentar onde necessário - como na Alemanha, o maior credor, que participará com 22 bilhões. O conselho do FMI deve aprovar esta semana sua parcela de 30 bilhões, segundo Dominique Strauss-Kahn, diretor gerente do fundo. - É um pacote de apoio sem precedentes para um esforço sem precedentes do povo grego - disse ontem o primeiro ministro da Grécia, George Papandreou. Em troca do primeiro resgate de um membro da zona do euro, Papandreou anunciou mais cortes de gastos e impostos. Salários e aposentadorias do setor público ficam congelados até 2012. Pretende-se reduzir o déficit orçamentário, que em 2009 era 13,6%, para os limites da UE (de 3%) até 2014. A Comissão Europeia e o FMI vão monitorar trimestralmente a Grécia, e os desembolsos estão condicionados às revisões. Caso não consiga cumprir as obrigações, o país enfrentará sanções, segundo fontes do governo. - Hoje temos que desenvolver um programa econômico que prevê esforços fiscais para recortar o déficit em 11 pontos (percentuais) do PIB ou 30 bilhões, começando agora e pelos próximos três anos - explicou George Papaconstantinou, ministro de Finanças da Grécia. Mas os gregos não concordam com as medidas que podem ser aprovadas pelo Parlamento na próxima sexta-feira, e, por isso, houve protestos em Atenas - alguns com episódios de violência. Os sindicatos já planejam iniciar greves gerais a partir de quarta-feira numa reação aos cortes salariais. A eles Papandreou pediu que aceitem os "grandes sacrifícios" para evitar uma "catástrofe". - Estes sacrifícios nos darão espaço para respirar e o tempo de que necessitamos para realizar grandes mudanças - disse. - Quero dizer muito honestamente aos gregos que temos um grande teste à frente. Segundo Strauss-Kahn, o programa vai conduzir a uma economia mais dinâmica que trará mais crescimento, emprego e prosperidade: - Nosso esforço coletivo vai também contribuir para a estabilidade do euro e beneficiar toda a Europa. O Banco Central Europeu (BCE) acredita que o pacote financeiro vai "contribuir para restaurar a confiança e salvaguardar a estabilidade financeira da zona do euro". Em comunicado, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, recomendou à Europa ativar a ajuda, classificando o plano de austeridade como "sólido e de credibilidade". - Essa ajuda será decisiva para ajudar a Grécia a colocar sua economia de volta nos trilhos e preservar a estabilidade da área do euro. A chanceler alemã, Angela Merkel, finalmente expressou seu apoio ao pacote grego, considerando o plano muito ambicioso e prometendo lutar pela aprovação parlamentar até a sexta-feira. O presidente americano Barack Obama ligou para Papandreou, dando apoio ao programa.