Título: Para especialistas, ajuda tardia não elimina ameaças a países do bloco
Autor:
Fonte: O Globo, 03/05/2010, Economia, p. 19
Debate sobre ajuste fiscal não poderá ser mais adiado, dizem analistas
RISCO EUROPEU: Pacote ainda pode aprofundar e alongar recessão na Grécia
ATENAS. O anúncio do pacote de ajuda à Grécia não deve neutralizar as ameaças potenciais a outros países europeus que também sofrem com dívidas públicas elevadas, caso dos Piigs, sigla em inglês que designa o grupo formado por Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. E, em menor medida, até mesmo o Reino Unido, que nunca teve dificuldades em vender seus títulos, já vê maior questionamento de sua situação fiscal. ¿ O impacto imediato pode ser calmante, mas a tensão pode voltar a aparecer em breve ¿ diz o economista Edward Hugh, que escreve para o influente blog Fistful of Euros. Enquanto a maioria dos economistas concorda que as medidas chegaram muito atrasadas, alguns temem que o pesado pacote fiscal levem a Grécia a uma recessão ainda mais profunda e prolongada, o que prejudicaria a vontade política de implementar as mudanças. Para a Europa, o socorro sem precedentes de um membro da zona euro, composta por 16 nações, testou a credibilidade da moeda única e criou algumas das mais profundas fissuras no projeto de unificação desde o seu início há mais de meio século. Poul Thomsen, chefe da missão do FMI para Grécia, rejeitou qualquer sugestão de que o pacote grego seja um modelo para os outros membros da União Europeia. É que o socorro fornece uma tábua de salvação para o governo grego, mas desafios semelhantes espreitam Portugal, Espanha e Itália, entre outros países do bloco. Fora da zona do euro, Letônia, Hungria e Romênia estão hesitantes em cumprir as metas econômicas e orçamentárias definidas em conjunto entre os países e o FMI. E mesmo o Reino Unido, que tem sua própria moeda e até agora teve pouca dificuldade para empréstimos a juros razoáveis, não será capaz de adiar muito mais o debate fiscal, dizem os analistas. Quem chegar ao poder após as eleições, nesta quinta-feira, tende a estar, em breve, sob intensa pressão dos mercados para definir um plano crível para o fechamento do déficit fiscal inglês.