Título: Dilma defende seu discurso técnico
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 01/05/2010, O País, p. 4

Após Pimentel pedir simplicidade, petista mantém retórica em Santos

SANTOS, SP. A pré-candidata petista, Dilma Rousseff, disse não concordar com o diagnóstico do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, um dos coordenadores da sua campanha, de que ela, como candidata, deveria deixar de lado a linguagem ¿técnica e elaborada¿ dos tempos de ministra e ser ¿mais objetiva¿.

¿ Acho que o Pimentel queria dizer outra coisa quando falou isso. É impossível discutir certas questões sem explicar o que você está fazendo. A não ser que vocês queiram uma resposta superficial. Depende muito da pergunta: se a pergunta é mais complexa, a resposta é mais complexa. Se a pergunta é mais simples, a resposta é mais simples ¿ disse Dilma, em Santos.

E a pré-candidata mostrou, na prática, que a afirmação não era apenas retórica. Ao responder à primeira pergunta da entrevista de ontem, sobre a onda de violência no litoral de São Paulo, gastou mais de dez minutos.

Para a Rádio Gaúcha, na terçafeira, Pimentel, havia afirmado que a petista tem que dar ¿resposta mais curtas sob pena de esgotar o tempo da entrevista sem passar o recado inteiro¿.

Pimentel é um dos petistas mais próximos de Dilma e entrou na coordenação da campanha a pedido da ex-ministra. Os dois se conhecem desde os anos 1960, quando militaram juntos em organizações de esquerda em Minas Gerais, estado onde nasceu a pré-candidata.

Um mês após deixar a Casa Civil, Dilma admite que ainda está se adaptando ao novo papel, mas avalia que ser candidata é mais fácil.

¿ É diferente mesmo. Nesse aspecto, o Pimentel tem razão.

Eu tenho aprendido. Como tudo na vida, se aprende. São responsabilidades distintas. Meu pessoal dizia: vai ser muito difícil (enfrentar a candidatura).

Posso falar uma coisa: difícil é coordenar um governo e garantir que as coisas que você disse que iria fazer, você prometeu à população, não sejam só promessas ¿ afirmou, referindose a sua antiga função.

Sobre a fama de durona no ministério, Dilma atribuiu o adjetivo ao fato de ser mulher.

¿ Você já viu algum ministro nos últimos 20 anos ser chamado de duro? Eu nunca vi. O interessante é que uma mulher que é chamada de dura.

Sabe por quê? Porque eu, de certa forma, cobro prazo para as coisas andarem.

Dilma teve um dia típico de candidata em Santos. Depois de dar uma entrevista no jornal ¿A Tribuna¿, ela seguiu a pé por cerca de 500 metros até a Associação Comercial. No caminho, entrou no Café Carioca, ponto tradicional de parada para políticos que visitam Santos. Cumprimentou funcionários e comeu um pastel de queijo.

Depois de deixar o café, a exministra passou na frente de uma casa lotérica e desejou boa sorte para as pessoas que faziam apostas. Em seguida, ouviu uma mulher pedir que ela dançasse a música ¿Rebolation¿, como fazem os humoristas do programa ¿Pânico¿, da RedeTV!. A petista respondeu: ¿ Vou dançar.