Título: Indústria sobe 2,8% e mercado vê PIB maior
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 05/05/2010, Economia, p. 24

Produção volta a nível de antes da crise. Frente a março do ano passado, avanço de 19,7% foi o mais alto desde 1991

A indústria brasileira finalmente conseguiu recuperar as perdas com a crise financeira global, um ano e três meses depois de ver sua produção despencar 20,6% nos três meses finais de 2008. Os números divulgados ontem pelo IBGE mostram que a produção em março aumentou 2,8% frente a fevereiro, numa expansão superior às mais otimistas das previsões. Na comparação com março de 2009, a alta de 19,7% foi a maior desde abril de 1991. Com isso, as apostas para a expansão da economia este ano só aumentam. Bancos e corretoras estão revendo suas projeções. Felipe Wajskop França, economista do Banco ABC Brasil, já reviu a previsão para a alta do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro trimestre de 2,2% para 2,5%, na comparação contra o último trimestre de 2009: ¿ Para o ano, a previsão deve subir dos atuais 6,5% para perto de 7%, mesmo com a alta de juros e com a desaceleração na atividade que esperamos nos próximos meses. A pesquisa Focus (feita pelo Banco Central com cem bancos) deve mostrar revisão de 6,06% para 6,5% nas projeções para o PIB nas próximas semanas. No ano, a produção já cresceu 18,1%, porém, nos últimos 12 meses, a indústria ainda acumula queda de 0,3%. Segundo André Macedo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE, o crescimento da produção é generalizado. Dos 27 setores pesquisados, 25 aumentaram a quantidade produzida frente a março de 2010: ¿ É um comportamento não visto desde agosto de 2004. Alexandre Maia, economistachefe da GAP Asset, não alterou suas projeções para o ano. Manteve a faixa entre 6,5% e 7% para o PIB este ano. Porém, o número da produção industrial indica que a alta da atividade econômica será mais perto de 7%: ¿ Isso, se não houver ruptura na zona do euro. Alteramos a projeção para o comportamento do primeiro trimestre. Frente ao fim do ano passado, subimos de 2% para 2,3%. E contra o primeiro trimestre do ano passado, a taxa subiu de 7,8% para 8,3%. Recuperação desigual entre os setores da indústria Mesmo voltando aos níveis de produção de antes da crise, a recuperação se deu de forma desigual. Assim, os bens de consumo não duráveis, que reúnem alimentos, bebidas, vestuário e remédios, já estão produzindo a todo o vapor, 3% acima de setembro de 2008. Já os bens de capital, que são as máquinas e equipamentos, estão distante de seu apogeu: a produção em março ficou 7,4% menor que em setembro. Mas foi esse setor que se destacou na pesquisa de março. A produção de máquinas e equipamentos foi 38,4% maior frente ao mesmo mês de 2009. É a quarta alta seguida de dois dígitos, lembra Macedo, do IBGE. A fabricação de máquinas está mais voltada para os setores de fora da indústria, diz Silvio Sales, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). ¿ Cresceu mais a produção de máquinas para construção, energia elétrica e transporte. Para abril, a expectativa dos analistas é de estabilidade ou pequena queda na produção industrial, diante do fim do IPI para eletrodomésticos e carros. Mesmo assim, se a indústria continuar no atual patamar até o fim do ano, a produção crescerá 11,8% em 2010.