Título: Tensão volta à bolsa
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2009, Economia, p. 14

Recuperação da economia mundial existe, mas está abaixo da esperada, levando investidores a venderem ações e a colocarem os lucros nos bolsos. Entretanto, existem avaliações de que mau humor é temporário

Em dia de mercado financeiro nervoso em todo o mundo, os investidores com aplicações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fizeram as contas e concluíram: vale a pena vender. Quando o dia começou, o índice formado por uma cesta com as ações das principais empresas brasileiras acumulava valorização de 42,6%. Isso significa que havia papéis com ganhos ainda maiores. Mas o dia começou com as bolsas caindo na Ásia ¿ Japão, China e Coreia e Taiwan ¿ durante a madrugada no Brasil e continuou com as principais bolsas europeias registrando quedas acentuadas ¿ França, Alemanha, Inglaterra ¿ durante a manhã. Quando a bolsa no Brasil abriu, a tendência do mercado em todo o mundo estava dada. Os investidores por aqui passaram a vender também e a Bolsa de São Paulo fechou em queda de 2,85%, aos 52.033 pontos, ainda assim acumulando alta de 38,5% em 2009.

Já o dólar comercial fechou em alta de 1,51%, cotado a R$ 1,953. ¿O mercado ainda está muito nervoso, volátil¿, analisou o economista da Confederação Nacional do Comércio Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central. ¿Os investidores estão com aversão ao risco e, ao menor sinal de mudança no cenário, eles querem embolsar seus lucros e saem vendendo.¿ Segundo Freitas, é uma aversão temporária, uma vez que as altas foram muito acentuadas desde o início do ano, tanto no preço das ações quanto no preço das commodities, considerando aí o petróleo e os minérios.

¿No mundo inteiro as bolsas caíram. O que aconteceu no Brasil foi reflexo do cenário internacional¿, disse Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria Econômica. Para ele, a recuperação da economia mundial está aquém do esperado, aumentando a apreensão dos investidores. Mas o cenário no Brasil ainda é muito positivo. ¿Estamos vendo o consumo crescendo, a produção crescendo, os juros caindo. Há uma visível melhora na margem, mas também está aquém do esperado, com alguns setores sofrendo mais do que outros. Ainda assim estamos muito melhor agora do que estávamos em dezembro¿, concluiu Jensen.

Mudanças Essa melhora já se reflete nas projeções das instituições financeiras. Para os profissionais do mercado financeiro, de acordo com o Boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é a soma das riquezas produzidas no país, deverá ter uma retração de 0,55%. Até a semana passada, a média do mercado apontava para uma redução de 0,71% do PIB. Os juros para o consumidor também estão em queda, a sexta consecutiva de acordo com pesquisa da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP) divulgada ontem. As taxas médias de juros dos empréstimos pessoais caiu de 5,57% para 5,52% ao mês em junho. No cheque especial, a taxa média cedeu de 8,89% para 8,87% ao mês (leia mais na página 16).

Outro indicador positivo divulgado ontem aponta que a produção da indústria paulista em maio deverá subir 3,8% em relação a abril. É o que demonstra o Sinalizador da Produção Industrial (SPI) de São Paulo, indicador elaborado por uma parceria entre a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a AES Eletropaulo, com o objetivo de antecipar as tendências da atividade industrial no estado de São Paulo. Em abril, o índice teve alta de 3,2% em comparação com março (leia mais abaixo).

Na China, o primeiro-ministro Wen Jiabao disse que, se necessário, adaptará as medidas de estímulo à economia em caso de necessidade. Ele se referia ao pacote de estímulo de US$ 580 bilhões anunciado no fim do ano passsado. Para ele, a recuperação da economia chinesa ainda não está consolidada, pois a demanda externa permanece em queda. ¿Não podemos deixar de destacar que o mercado ainda tem a expectativa de alta dos juros de longo prazo nos Estados Unidos¿, lembrou Carlos Thadeu de Freitas Gomes.