Título: Lula defende entendimento conjunto
Autor:
Fonte: O Globo, 06/05/2010, O mundo, p. 32

Dizendo trabalhar pela paz, presidente pede acordo com ONU e AIEA

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que fará todo o possível para contribuir com a paz mundial. Reagindo à informação de que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, estaria disposto a aceitar que o Brasil atue como mediador de um eventual acordo para a troca de urânio iraniano, Lula defendeu um acordo entre o Irã, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e os países que participam do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Segundo ele, o Brasil está empenhado nesse projeto. - É preciso que a proposta seja aceita pelos dois lados. Seria tudo o que o mundo precisa, porque o mundo precisa de paz para se desenvolver, para crescer economicamente e para melhorar a vida do povo - afirmou o presidente. Ao mesmo tempo, Lula voltou a cobrar dos países que detêm armamento nuclear que desativem seu arsenal. - O avanço que o Brasil quer conseguir nesta minha viagem ao Irã (no próximo dia 15) e nas conversas que temos tido com o Irã e que já tive com China, Rússia, Índia, África do Sul, Estados Unidos e França, é garantir que haja paz no mundo, que haja uma política de desarmamento efetiva no mundo com relação a armas nucleares - disse ele, após uma solenidade no Itamaraty. Para Brasil, Ahmadinejad teme aplicação de sanções O presidente lembrou que a Constituição brasileira proíbe a fabricação de armas nucleares, o que dá ao Brasil "autoridade moral e política" de lutar pelo desarmamento e de ser contra as armas atômicas. Ele reiterou, ainda, que o Brasil defende o direito de produção de energia e aparelhos médicos que têm como fonte o enriquecimento de urânio: - O que queremos para o Irã é o que queremos para nós e para o mundo, na expectativa de que países que já têm as bombas nucleares comecem a desativá-las. O Brasil quer atuar como "facilitador" na retomada das negociações entre o governo de Teerã e a AIEA, conversando com todas as partes para que o diálogo seja retomado. De acordo com um alto funcionário do governo brasileiro, a ideia de o presidente Lula se tornar um mediador - ou seja, participando diretamente das negociações - partiu das autoridades iranianas, assim como a sugestão de que a troca do urânio por combustível se desse em um terceiro país. O uso do território brasileiro para a operação é descartado pelo governo, que aponta a Turquia como local ideal para a permuta. Os turcos, lembrou essa fonte, além de serem mais próximos geograficamente do Irã, mantêm boas relações com os iranianos e os Estados Unidos- que defendem uma nova rodada de sanções imediatas ao país. Apesar das pressões iniciais da Casa Branca, o governo americano agora aguarda o resultado da conversa de Lula e Ahmadinejad, em Teerã. Há dois dias, numa reunião reservada com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em Nova York, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, pediu que, após a visita ao Irã, o chanceler brasileiro faça um relato da conversa ao governo americano. A avaliação atual do governo brasileiro é que Ahmadinejad está com medo de possíveis sanções e está disposto a apresentar as garantias que forem exigidas para evitar que seu país seja punido. Ahmadinejad também mandou recados pelos ministros do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e das Relações Exteriores - ambos estiveram recentemente em Teerã - pedindo que Lula converse com o presidente dos EUA, Barack Obama, para que a aplicação de novas sanções econômicas não se concretize.