Título: Para EUA, Brasil é canal confiável
Autor:
Fonte: O Globo, 06/05/2010, O mundo, p. 32

Embaixador americano elogia atuação do país nas negociações sobre programa nuclear

SHANNON em palestra no Cebri: diplomata diz que Brasil já emergiu

A antiga parceria entre os Estados Unidos e o Brasil entrou, agora, numa nova etapa, afirmou ontem o embaixador americano no país, Thomas Shannon. Segundo ele, as relações bilaterais deram lugar a uma relação global, com os dois países agindo em conjunto na busca de objetivos em outras nações. Por esse motivo, a tentativa brasileira de convencer o Irã a um diálogo transparente, com relação ao seu programa nuclear, seria uma iniciativa bem-vinda. Segundo ele, os EUA já reconheceram que o Brasil deixou de ser uma potência emergente. - Ela já emergiu - afirmou Shannon, em visita ao GLOBO. - O Brasil ocupa agora um lugar no cenário global que não pode ser negado ou mesmo ignorado. Esse fato transformou as relações entre os EUA e o Brasil de uma forma fundamental - disse ele, acrescentando que tal parceria deve estar baseada em fatos, porque "já vivemos num mundo pós-ideologia", em que ideologia e retórica "não são mais as ferramentas adequadas para compreender a realidade do mundo em que vivemos, muito menos para definir nosso compromisso ou nossa cooperação". O fato de o Brasil se apresentar como interlocutor na questão nuclear iraniana, continuou Shannon, exemplifica esse novo momento, com o governo brasileiro navegando num circuito que atualmente está fechado ao americano: - O importante em qualquer negociação é ter canais de comunicação confiáveis. O Irã tem dificuldades em se comunicar com o resto do mundo. Nesse sentido, tanto o Brasil quanto a Turquia fazem um papel importante. Nossa esperança é que essa iniciativa tenha êxito. Somos céticos, não com o Brasil ou a Turquia, mas com o Irã. Mas vamos continuar conversando com o Brasil sobre isso, para ver se será possível produzir um resultado que seja bom para o Irã e para o mundo. Antes da visita ao jornal, Shannon fez uma palestra no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), na qual comentou que o engajamento dos EUA com o Brasil "em iniciativas novas e inovadoras", tanto de forma bilateral quando global, às vezes é testado "pela nossa capacidade de entender e responder um ao outro". E justificou: - Intimidade, em qualquer relacionamento, não representa ausência de questionamentos. Significa uma percepção ou compreensão mútua que se sobrepõe às diferenças. A maneira com a qual lidamos com as diferenças é importante, mas o mais importante é como nossas parcerias são construídas. Segundo Shannon, tem havido mudanças fundamentais que "valorizam a qualidade, a constância, a abrangência e a diversidade do nosso diálogo". Ele lembrou que já houve períodos de engajamento e cooperação intensos seguidos de períodos de afastamento e desatenção, como resultado de mudanças de prioridades e de desafios em outras partes do mundo "que desviavam a atenção". Isso mudou: - No cenário atual não podemos mais permitir que nossas relações fiquem estagnadas - esclareceu, ponderando a seguir: - Nós sempre estaremos nos ajustando a novos desafios, e nossa confiança mútua crescerá enquanto desenvolvemos maneiras práticas e efetivas para responder aos desafios especiais do século XXI. Shannon disse que nessa nova etapa de relacionamento prefere não utilizar a palavra "estratégica" para definir a parceria Brasil-EUA: - O problema com essa palavra é que todo mundo a usa para descrever suas relações. E muitas vezes ela serve para esconder a pobreza de uma relação - comentou o embaixador.