Título: Tragédia grega
Autor:
Fonte: O Globo, 06/05/2010, Economia, p. 21

Protestos provocam 3 mortes em Atenas. Agência mira em Portugal e derruba bolsas

MANIFESTANTE ATIRA pedra contra a polícia em frente ao Parlamento grego, onde governo e oposição discutem o pacote de medidas para reduzir o déficit fiscal

Do New York Times e El País

Odrama da crise financeira grega ganhou ontem contornos de tragédia, depois que pelo menos três pessoas morreram - um homem e duas mulheres, uma delas grávida - e outras 12 ficaram feridas, quatro delas gravemente, num incêndio provocado por coquetéis molotov atirados por manifestantes. As vítimas estavam na sede do banco Marfin em Atenas. Num dia em que o país parou em meio à greve geral, e protestos violentos contra as medidas de austeridade do governo para reduzir o déficit público tomaram as ruas, os temores de contágio em outros países da zona do euro foram reforçados pelo alerta da agência de classificação de riscos Moody"s de que irá revisar para baixo a nota dos bônus portugueses. A informação derrubou as bolsas no mundo. A bolsa de Atenas caiu 3,91%; Lisboa, 4,6%; e Madri, 5,4%. O euro caiu novamente para o menor patamar em um ano, cotado a US$1,2936. - Protesto é uma coisa. Assassinato é outra - disse o premier grego, George Papandreou, em sessão no Parlamento para votar o pacote de medidas fiscais. - Todos têm direito de protestar, mas ninguém pode partir para a violência e especialmente violência que resulta em morte de nossos compatriotas. Papandreou se referia a grupos de jovens, muitos deles desempregados, sem filiação aos sindicatos que lideram os protestos. Esses grupos saíram ontem pelas ruas de Atenas ateando fogo a prédios públicos e instituições do governo. Segundo o porta-voz da polícia, Panagiotis Papapetropoulos, pelo menos oito prédios públicos e agências bancárias foram depredados, exigindo ação da polícia. Ele não deu detalhes sobre manifestantes presos ou feridos. Segundo variadas fontes, os protestos em Atenas reuniram mais de 100 mil pessoas, embora as autoridades policiais tenham calculado um número mais modesto: 20 mil manifestantes. A greve havia sido convocada pelos sindicatos do setor privado e dos funcionários públicos para um protesto de 48 horas, encerrado ontem. Porém, o sindicato dos bancários disse que continuará a paralisação hoje, em protesto contra as vítimas do incêndio. Para eles, o governo é o responsável pela tragédia.