Título: Dois dias depois, Tuma Jr. continua no cargo
Autor: Carvalho, Jailton de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 07/05/2010, O País, p. 18

PF deve entregar segunda-feira relatório sobre suposto envolvimento de secretário com preso que integra máfia chinesa

BRASÍLIA. Dois dias após as denúncias do suposto envolvimento do secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, com o chinês Li Kwok Kwen, conhecido como Paulo Li, terem sido divulgadas pelo jornal ¿O Estado de S. Paulo¿, ele continua no cargo, e o governo Lula ainda não decidiu se será exonerado. O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, chefe imediato de Tuma Júnior, pediu informações adicionais sobre o caso à Polícia Federal, mas viajou para Buenos Aires para participar de encontro de ministros da Justiça no Mercosul. Antes, em entrevista a correspondentes estrangeiros, no Rio, foi lacônico ao falar da denúncia: ¿ Não existe máfia chinesa dentro do Ministério da Justiça. O diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, deve apresentar o relatório solicitado pelo ministro até segunda-feira. Quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dissera que Tuma Júnior tem uma longa ficha de serviços prestados, e que deveria se esperar a conclusão das investigações da PF antes de tomar uma decisão. O governo repetiu ontem o discurso do presidente. Segundo fontes do Palácio do Planalto, o governo não está preocupado com a situação de Tuma Júnior, e nem o secretário está enfraquecido no cargo. O governo se vale da decisão de um procurador da República de não apresentar denúncia contra Tuma Júnior, por não ter identificado indício de ligação criminosa entre ele e Paulo Li. O problema seriam as questões éticas da ligação de Tuma Júnior com um homem preso por pertencer à máfia chinesa. ¿ O governo não está defendendo o Tuma, mas tem mais o que fazer ¿ tentou se explicar um ministro, diante da falta de iniciativas para resolver o problema.

Novas gravações com Tuma Júnior são divulgadas

Li foi preso em setembro do ano passado pela PF durante Operação Wei Jin, investigação sobre contrabando e imigração ilegal de chineses para o Brasil. Segundo a polícia, ele importava celulares falsificados pelos Correios, etiquetava os produtos com marcas famosas e revendia a mercadoria no país. Em gravações feitas pela PF e divulgadas pelo ¿O Estado de S.Paulo¿, Tuma Júnior aparece conversando com Li sobre telefones, câmeras fotográficas e processos de legalização de chineses no país. Tuma é presidente do Conselho Nacional de Combate a Pirataria. Novas gravações divulgadas ontem mostraram que Tuma Júnior tentou interferir para conseguir a aprovação do namorado da filha num concurso para a Polícia Civil de São Paulo. A partir do inquérito da Operação Wei Jin, o Ministério Público Federal de SP denunciou Li e mais nove pessoas, entre eles três filhos do chinês naturalizado brasileiro. O procurador Marcos José Gomes Corrêa deixou de fora Tuma Júnior. Para ele, os indícios não são suficientes para incriminar o secretário. Mas o caso não está encerrado. A Corregedoria da PF em São Paulo também deve decidir, nos próximos dias, se abre novos inquéritos sobre o caso e se será necessária investigação específica sobre Tuma Júnior. A corregedoria deverá tomar a decisão com base nas análise de HDs de computadores apreendidos em endereços de Paulo Li. O relatório de Corrêa deverá incluir parte dessas informações. O chinês foi assessor parlamentar de Tuma Júnior no período em que ele era deputado na Assembleia Legislativa de São Paulo. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que, por enquanto, há apenas denúncias envolvendo o secretário e que não se deve afastar uma autoridade do cargo apenas por acusações. Ele argumenta que toda acusação deve ser investigada, mas que as pessoas devem ser consideradas inocentes até que se prove o contrário: ¿ Toda acusação deve ser investigada a fundo, tem de ser esclarecida, para depois serem tomadas as providências. É apenas uma denúncia. O senador Romeu Tuma (PTB-SP) defendeu o filho. Segundo ele, Tuma Júnior e Paulo Li eram amigos. ¿ Amizade nós temos até o momento em que se acha que a pessoa não cometeu qualquer ilícito. A partir do momento que você considera que ela tenha praticado, não pode ser solidário com a prática de ilícitos ¿ disse Tuma.