Título: Em meio à tensão, dólar encosta em R$ 1,90
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 07/05/2010, Economia, p. 33

Moeda teve terceiro dia seguido de valorização. Durante os negócios, chegou a subir a R$ 1,892, mas fechou a R$ 1,851

O pânico no mercado financeiro desencadeado pelo temor de um alastramento da crise fiscal grega ¿ e agravado por possíveis erros na negociação de ações em Nova York ¿ levou ontem o dólar comercial para o terceiro dia seguido de forte valorização. A moeda fechou a R$ 1,851, uma alta de 2,95%, maior variação positiva desde março de 2009. É ainda o maior valor da moeda desde 12 de fevereiro. No auge do pânico nas bolsas americanas, a divisa chegou a ser negociada a R$ 1,892, uma alta de 5,22%. Segundo analistas, investidores seguem vendendo ativos em mercados emergentes ¿ como ações e títulos ¿ e transferindo os recursos para aplicações consideradas mais seguras, como os títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries. Quando vendem os ativos em moeda local, os investidores compram dólares para remeter o valor para o exterior. E, como menos dólares ficam disponíveis no mercado, a moeda se valoriza. ¿ Houve um estouro da boiada e todo mundo foi comprar dólar junto ¿ afirma Luiz Antônio Abdo, gerente de câmbio da Souza Barros. Na última terça-feira, investidores estrangeiros retiraram R$ 452,387 milhões da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), segundo dados divulgados ontem. Naquele dia, o dólar registrou uma alta de 1,66%, para R$ 1,761

Ibovespa recua ao menor nível desde 8 de fevereiro

O forte avanço da moeda foi alimentado ainda por ordens automáticas de compra disparadas por fundos de investimentos, chamadas, no jargão do mercado, de ¿stop loss¿ (em português, pare as perdas). Jorge Knauer, do Prosper, lembra que bancos apostavam na desvalorização do dólar, o que era uma tendência nas últimas semanas: ¿ Com a piora da crise europeia e a alta do dólar, os bancos precisaram comprar moeda americana para compensar suas apostas pró-real. Quando isso acontece, eles compram a qualquer preço. Quem apostava na queda do dólar teve que virar a mão e comprar bastante. Ontem, o Índice Bovespa (Ibovespa, o principal da Bolsa de São Paulo) fechou em queda de 2,31%, aos 63.414 pontos, menor patamar desde 8 de fevereiro deste ano. No auge do estresse no mercado americano, o índice chegou a recuar 6,38%, de volta aos 60.774 pontos. Em três dias, acumula perda de 5,52%. Dos 63 papéis do Ibovespa, 59 fecharam em queda. As ações em alta ¿ como Ambev ¿ são de boas pagadoras de dividendos. Entre as perdas, destaque para a Gol (5,40%), que registrou queda 62% no lucro líquido no primeiro trimestre, para R$ 23,9 milhões.