Título: Emergentes geraram 45% do aumento do PIB global no semestre passado
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 09/05/2010, Economia, p. 31

Crescimento este ano, porém, deve ser menor e crise ameaça avanço dos ricos

Do quase US$ 1,5 trilhão de aumento do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos) mundial na segunda metade do ano passado, cerca de US$ 670 bilhões vieram dos mercados emergentes, o que representou a cifra recorde de 45%. Esse número, que entre 2006 e 2007 ficara abaixo de 18%, mostra como a economia global passou a depender de países como China, Brasil e Índia, num momento em que o fantasma da crise financeira volta a assombrar a incipiente recuperação das potências europeias e dos EUA.

Com um PIB anualizado de US$ 4,8 trilhões, a China aumentou sua participação de 13% para mais de 30%, o correspondente à geração extra de aproximadamente US$ 500 bilhões em riquezas. Na sequência, aparece o Brasil, cuja parcela no período pulou de 2% para 6%. Fechando o ciclo, a Índia, de 3,5% para 5%. Esses percentuais levam em consideração o crescimento registrado pelas 18 maiores economias do mundo, que correspondem a 85% do PIB mundial.

¿ A adição dos demais 15% dificilmente alteraria a constatação de que, por ora, a recuperação econômica mundial segue muito dependente de um número limitado de economias emergentes ¿ explica o economistachefe do banco de investimento Banif, Mauro Schneider, responsável pelos cálculos.

Concluído em abril, o estudo considerou a premissa de que a crise na Grécia seria contornada a curto prazo. Ainda assim, o cenário traçado na época pelo banco não era exatamente animador.

Líderes na expansão mundial, os países emergentes começariam a conter o crescimento do consumo interno e dos investimentos (para evitar um repique dos índices inflacionários), enquanto os países desenvolvidos ainda teriam pela frente obstáculos para voltar a crescer com força.

Os acontecimentos da última semana, com o recrudescimento da crise ¿ que agora ameaça engolir Portugal, Espanha e Itália ¿, acabaram reforçando o cenário pessimista para a recuperação da economia mundial a médio prazo. Para o Banif, essa perspectiva é incerta.

¿ Isso (o cenário) agora ganhou nova ameaça substantiva com a Grécia ¿ disse Schneider, acrescentando que é difícil imaginar que a Grécia não possa contaminar a Europa inteira e mesmo os EUA.

¿ A conclusão é que teremos os emergentes ainda crescendo, mas num ritmo menor do que no passado, sem a garantia de que isso será compensado pelas economias desenvolvidas.

Endividamento dos países europeus deve subir Historicamente, os processos de recuperação econômica são desbalanceados ¿ pelo termo empregado pelo Banif. Saltam na frente os que sofrem menos com a crise e tem maior potencial de crescimento. Durante muito tempo, esse papel coube exclusivamente aos EUA, cujo consumo ainda equivale a cerca de 20% do PIB mundial. A falta de um ¿rebalanceamento¿ pode, em tese, levar a um novo ciclo de retração.

As dificuldades para que esse processo se repita, a partir da Europa, estão na perspectiva de elevação do endividamento de alguns países. Projeções do FMI e da própria Comunidade Europeia indicam que a dívida pública da Espanha subirá de 40% do PIB, em 2008, para quase 65% neste ano e para mais de 70% em 2011.

Mesmo a Alemanha, que conseguiu manter seu déficit fiscal sob controle até 2009, terá dificuldade para administrar suas contas. A combinação de aumento desse déficit e baixo crescimento do PIB levará seu endividamento a ultrapassar os 80% do PIB.

¿ O endividamento público na Europa não só se manterá acima de 60% do PIB, parâmetro do acordo de Maastricht, como seguirá em trajetória ascendente nos próximos anos. O financiamento desse déficit competirá com o setor privado por recursos limitados e, dessa maneira, o custo do crédito subirá ¿ afirmou Schneider.