Título: Mantega admite cortar despesas correntes para conter a economia
Autor: Almeida, Cássia; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 11/05/2010, Economia, p. 21

Medida poderia ser adotada se PIB crescesse mais de 6%, diz ministro

Com as expectativas para os índices de inflação este ano aumentando a cada semana, o governo já estuda maneiras de cortar despesas e desaquecer a economia. Após participar ontem de seminário do jornal Valor Econômico sobre infraestrutura, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que está estudando reduzir o consumo do governo, se a economia estiver crescendo mais de 6% ao ano: Já eliminamos o desconto de IPI praticamente em todos os setores, a taxa de juros já subiu, os compulsórios foram todos restabelecidos, portanto, já houve um certo aperto.

Mas se for comprovado que o crescimento é mais forte do que aquilo que desejamos, ou seja, acima de 6%, nós poderemos reduzir o consumo do governo.

O ministro afirmou que os gastos dos principais programas, como os de investimento e os do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além dos projetos de infraestrutura, ficarão intocados.

Também citou os programas sociais como despesas que serão poupadas se houver redução no consumo do governo.

Os programas de infraestrutura serão mantidos, senão criamos gargalos. Faltará energia, transporte.

Mas, segundo o ministro, a decisão ainda não foi tomada, para não desestimular a economia antes de ter a comprovação de há crescimento forte.

Os gastos correntes de vários ministérios poderão ser reduzidos, para que a gente possa diminuir a força da demanda na economia brasileira. Programas de custeio poderão ser postergados e diminuídos.

BNDES: mais projetos de investimentos que em 2008 Também presente no mesmo evento, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que o volume mapeado de investimentos para os próximos quatro anos já é superior ao previsto em agosto de 2008, antes do marco da crise financeira mundial, a falência do banco americano Lehman Brothers: Houve um aumento tanto nos investimentos da indústria como nos investimentos em infraestrutura. E, hoje, o volume quadrienal, olhando para a frente, já supera o período pré-crise. A novidade é que os investimentos para o mercado externo já começam a dar sinais de recuperação por causa das boas exportações para a Ásia.

Segundo Coutinho, os investimentos mapeados até agora já apresentam um crescimento médio de 10% ao ano.

Segundo ele, os investimento previstos para os próximos quatro anos somam R$ 310 bilhões contra R$ 270 bilhões na previsão de agosto de 2008. O investimento na indústria também cresceu cerca de R$ 40 bilhões, chegando a R$ 540 bilhões. O total dos dois setores passou de R$ 770 bilhões, na previsão de antes da crise, para R$ 850 bilhões no levantamento mais recente do banco.

E as projeções para o desempenho da economia não param de crescer. O Itaú Unibanco está fazendo as contas para rever a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).

Até agora, a projeção está em 6,5%. O economista-chefe do banco, Ilan Goldfajn, afirmou que provavelmente, a revisão será para um percentual acima disso.

No 1otrimestre, economia de 2% a 3% maior Sobre a intenção do governo de cortar gastos para conter a demanda aquecida, Goldfajn afirmou que é uma ajuda importante: Isso ajuda, mais a retirada de estímulos e mais a subida de juros do Banco Central.

Com tudo isso, diminui o excesso de demanda. Isso vai convergir para taxa de crescimento de longo prazo.

Os números de PIB para o primeiro trimestre do ano estão fortes, na previsão do banco.

Goldfajn calcula uma taxa entre 2% e 3% frente ao último trimestre do ano passado. O IBGE vai divulgar os números oficiais da economia brasileira no dia 8 de junho.

Anualizado chega a um crescimento de dois dígitos disse o economista.