Título: Economistas já projetam um déficit externo no Brasil de até 2,8% do PIB
Autor: Dercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 11/05/2010, Economia, p. 20

Para maioria, fluxo de investimento estrangeiro deve evitar descontrole

O aumento do déficit em conta corrente, para US$ 12,14 bilhões no primeiro trimestre, e as incertezas que a crise na Europa lança sobre o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) ao país não devem comprometer a capacidade do Brasil de controlar as contas externas a curto prazo.

Mesmo projetando déficit externo entre 2,5% e 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), a maior parte dos economistas descarta risco de descontrole no balanço de pagamentos.

Se, por um lado, um crescimento do PIB perto de 7% estimula as importações e alimenta a preocupação com as contas externas, a perspectiva de alta na taxa básica de juros (Selic) é um importante atrativo para investimentos financeiros.

Apesar da retração dos IEDs, os investimentos em carteira, especialmente em títulos da dívida pública federal, continuam fortes por causa da expectativa de elevação da Selic diz Taís Marzola Zara, economistachefe da consultoria Rosenberg & Associados.

Ela projeta déficit de transações correntes de US$ 54 bilhões (2,8% do PIB) este ano, mas que deve ser coberto pela combinação de IEDs que estima em US$ 34 bilhões com aplicações em títulos públicos e ações.

André Sacconato, da Tendências, lembra que, no auge da crise global, entre 2008 e 2009, o Brasil passou quatro meses com déficit na conta de transações correntes (de US$ 22 bilhões) e não foi nenhuma catástrofe.

Com o grau de investimento e reservas internacionais hoje em US$ 250 bilhões, diz, o país não deve ter problemas para fechar as contas externas.

O Brasil não está entre os mercados mais arriscados, mas ainda sofre. Mas menos que antes afirma. Mesmo que haja uma crise mais aguda agora, o país está preparado.

Balança tem superávit de US$ 517 milhões em maio Já para o ex-ministro e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Luiz Carlos Bresser Pereira, o Brasil está enveredando pelo caminho errado de Grécia e Portugal, cuja crise teve origem em fortes déficits: É evidente que estamos no caminho de Grécia e Portugal.

Voltamos ao déficit de conta corrente. E voltamos firmes e fortes, com o apoio dos mais maravilhosos economistas deste país, que dizem que esta é a condição para crescer, embora os dados digam o contrário.

Enquanto isso, a balança comercial teve superávit de US$ 517 milhões na primeira semana de maio, com exportações de US$ 4,003 bilhões e importações de US$ 3,486 bilhões. A média diária exportada (US$ 800,6 milhões) só perde para a quinta semana de abril (US$ 827,2 milhões). No ano, o superávit é de US$ 2,692 bilhões, 62,8% abaixo do mesmo período de 2009, com vendas de US$ 58,393 bilhões e compras de US$ 55,701 bilhões.

COLABOROU Eliane Oliveira