Título: CNBB vive racha político
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 12/05/2010, O País, p. 4
Plano de direitos humanos e eleições são foco de polêmica
BRASÍLIA. Tema polêmico para a Igreja Católica, a terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos, que virou um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cria tensão entre participantes da 48° Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Brasília. Um grupo menos simpático ao governo do PT defende a negação total do programa. Outro defende o diálogo: é contrário a alguns pontos, mas defende que parte do texto seja preservada.
A divisão reflete o racha político na CNBB.
Bispos influentes decidiram agir para evitar a politização da entidade e esvaziar o ressurgimento de grupos com atuação de esquerda, que tinham força até os anos 80. O temor é que o fortalecimento deles possa levar a um posicionamento de setores da Igreja durante a eleição, com demonstrações de simpatia à candidatura de Dilma Rousseff. Presidente da Cáritas Brasileira setor da CNBB que atua em questões sociais , dom Luiz Demétrio Valentini, favorável a uma censura apenas aos pontos polêmicos (aborto e casamento homossexual), disse que há também repulsa ao programa.
Não há consenso sobre o programa. Há tensão nos debates. Alguns bispos estão motivados por certo fundamentalismo incompatível com os tempos atuais e querem mandar o plano e o Lula para o inferno. Não se pode dizer amém simplesmente ao plano. Mas não se pode negar tudo disse dom Demétrio Valentini.
A posição sobre o tema deve sair hoje ou amanhã. A entidade divulgará manifesto sobre as eleições de 2010. Para Dom Demétrio, a tendência é prevalecer uma posição equilibrada.
É preciso admitir a pluralidade. Temos que ser mais condescendentes e aceitar a coisa contrária disse Valentini.
Integrantes da CNBB relataram desconforto com o que chamaram de aparelhamento da entidade, com uma assessoria identificada com os movimentos de esquerda e próxima do governo Lula. Esse novo grupo de assessores ganhou força na gestão do atual secretário geral, dom Dimas Lara Barbosa, bispo-auxiliar do Rio de Janeiro.
As posições contrárias ao programa foram calorosamente aplaudidas. Dom Dimas Lara defende que a CNBB reconheça os avanços do programa, o que incomodou setores moderados e conservadores da entidade.
O secretário se reuniu com o secretário Nacional de Direitos Humanos, ministro Paulo Vannuchi, e discutiram os trechos a serem abolidos. Houve uma ordem do presidente Lula para que Vannuchi exclua a defesa do aborto do texto. A insistência de dom Dimas em defender o Programa de Direitos Humanos cria constrangimentos na Igreja e tem forte reação de bispos conservadores, como dom Filippo Santoro (Petrópolis).