Título: Premier grego homenageia mortos em protesto
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Globo, 08/05/2010, Economia, p. 33

Visita relâmpago à agência bancária destruída é vista como tentativa de reconquistar a simpatia do público

A PROFESSORA Barbara chora ao visitar a agência bancária onde três pessoas morreram asfixiadas após protesto

O PREMIER Papandreou, ao fundo, depositou uma rosa no local

ATENAS. O burburinho intenso em frente à agência do banco Marfin Egnatia, no centro de Atenas, aumentou ontem por volta do meio-dia. Numa visita-surpresa, o primeiro-ministro grego George Papandreou depositou uma rosa no local onde, dois dias antes, três funcionários morreram de asfixia, vítimas de incêndio provocado por manifestantes contrários ao pacote de austeridade fiscal aprovado pelo governo. A rosa rapidamente despareceu entre as centenas de buquês e coroas de flores, além de bilhetes e velas, que têm sido colocados na fachada do banco.

A homenagem humilde ¿ e relâmpago ¿ do líder grego aos três mortos foi interpretada pelos presentes como uma tentativa de reconquistar a simpatia do público em meio a uma das mais profundas crises econômicas da história do país. Mas, a julgar pela reação das pessoas, Papandreou tem um longo caminho pela frente. Ele não foi vaiado, mas também não foi recebido com calor especial.

A agência bancária vandalizada se tornou um ponto de peregrinação dos atenienses comovidos com as mortes. Volta e meia, os ânimos se acirram. Há quem decida improvisar um discurso contra o governo. Ou quem prefira criticar, a altos brados, os manifestantes. As discussões acaloradas são testemunhadas, de longe, por dois ou três policiais, lotados no local para evitar confusão.

Dois ou três ursinhos de pelúcia colocados entre as flores lembram que entre as vítimas do incêndio estava uma grávida. Bilhetes endereçados à criança que não chegou a nascer arrancavam lágrimas dos visitantes. Um deles dizia ¿Eles (manifestantes) não se importam com as almas humanas¿. Outro, apenas ¿Vergonha¿.

¿ Não consigo me conter _ murmurou, entre soluços, a professora de inglês Barbara Crespi, de 64 anos, nascida na Nova Zelândia mas moradora de Atenas há 35 anos. ¿ Esses anarquistas, esse hooligans, têm que ir para a cadeia. Não há ideal ou causa que justifique incendiar um banco cheio de gente.

Polícia diz que avançou nas investigações

A polícia anunciou que fez avanços na investigação para descobrir quem jogou o coquetel molotov no banco. Câmeras do circuito interno de TV da agência capturaram imagens da hora do ataque, mas os responsáveis estavam mascarados.

Vinte e cinco pessoas estavam na agência bancária que ardeu em fogo. Os manifestantes alegaram que o ataque foi justificado porque elas não estariam honrando o dia de greve geral decretado pelos dois principais sindicatos do país. Desde então, uma série de rumores se espalhou pela Grécia pela internet, através de blogs e mensagens. Um dos boatos assegura que o gerente do banco fechou as portas do prédio para evitar que os funcionários se juntassem aos grevistas.

¿ Também ouvi essa versão, mas a boataria está sendo alimentada por quem quer justificar o crime cometido ¿ disse a astrofísica grega Eleni Chatzichristou, de 46 anos, que também trabalhou no dia da greve geral. ¿ Poderia ter sido comigo. Meu escritório é aqui pertinho.

Mas há quem acredite que os mortos são vítimas apenas das circunstâncias. É o caso da estudante de cosmética Ellie Tringou, de 20 anos, que não esconde a simpatia pelos manifestantes que tomaram as ruas de Atenas nos últimos dias:

¿ Toda revolução faz vítimas inocentes. Sinto pelos mortos, mas a Grécia precisa mudar radicalmente. Com esse pacote fiscal, as coisas só vão piorar. Os pobres é que vão pagar o pato pelos desmandos dos políticos e da elite.