Título: Trabalho infantil tem queda menor no mundo
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 08/05/2010, Economia, p. 34

OIT alerta que crise não pode ser desculpa e que meta não será atingida. 215 milhões de crianças trabalham

BRASÍLIA. O trabalho infantil está caindo menos no mundo e a crise financeira internacional não pode servir de desculpa no combate a esse tipo de problema.

O alerta foi dado ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no relatório global sobre o assunto, que é divulgado a cada quatros anos.

Segundo o documento, houve redução de 3% do universo de crianças que trabalham, de 222 milhões para 215 milhões, entre 2003 e 2008. No período anterior, a queda tinha sido num ritmo muito maior, de 10%.

Outro número alarmante, segundo o organismo, é que dos meninos e meninas que trabalham, 115 milhões estão submetidos às piores formas de trabalho, que violentam os direitos fundamentais da criança (em atividades expostas a riscos), como pedir esmolas, o tráfico de drogas, a exploração sexual e outros atos ilícitos. Diante desse universo, a OIT afirma no relatório que não será alcançada até 2016 a meta ¿ fixada há quatro anos pelo organismo e vários países ¿ de eliminar esse tipo de serviço na infância.

Além de enfraquecer ações de combate ao trabalho infantil, a OIT teme que a desaceleração da economia mundial resulte num maior número de crianças exercendo atividades irregulares. E defende que os governos executem políticas, bem como preservem os orçamentos destinados a inibir esse tipo de irregularidade.

Apenas uma em cada cinco crianças recebe salário Segundo o relatório, a maioria das crianças que trabalham está engajada na agricultura, setor que emprega 60% delas.

Além disso, somente uma em cada cinco recebem um salário.

¿Uma espantosa maioria trabalha para a sua família sem remuneração¿, diz a OIT no documento.

O documento aponta ainda que o maior progresso no combate ao problema ocorreu entre meninos e meninas entre 5 e 14 anos, faixa etária com queda de 10%. Neste mesmo grupo, houve uma redução de 31% no universo de crianças em ocupações perigosas.

No entanto, um corte por gênero revela que o problema está afetando menos as meninas (15 milhões a menos) ¿ o que corresponde a uma redução de 15%.

Enquanto isso, foi verificado que mais meninos passaram a trabalhar (oito milhões), alta de 7%.

Já o trabalho entre jovens dos 15 aos 17 anos subiu 20%, de 52 milhões para 62 milhões.

Segundo a OIT, os avanços ocorrem de forma desigual entre as regiões, com o trabalho infantil caindo na Ásia e no Pacífico, na América Latina e no Caribe, mas subindo na África Subsaariana (países mais pobres, que não fazem parte do Norte da África). Nesta região, para cada quatro crianças, uma está trabalhando. Foram consideradas pelo organismo zonas críticas, onde existe ¿o perigo de perder-se a batalha contra o trabalho infantil¿.

O novo relatório da OIT foi divulgado às vésperas da conferência mundial sobre o tema, que será realizada em Haia, na Holanda, nos dias 10 e 11. Estarão presentes ao evento 450 delegados de 80 países, incluindo o Brasil.

Famílias vivem ciclo de exclusão social e pobreza Na conferência, a OIT pretende eleger o combate ao trabalho infantil como uma das prioridades para o desenvolvimento dos países.

¿ Crianças que trabalham não estudam e vão reproduzir a situação de exclusão social e pobreza da qual elas são oriundas ¿ destacou Renato Mendes, coordenador do Programa Internacional de Combate ao Trabalho Infantil do escritório da OIT no Brasil.