Título: Medo volta a Nova York e fecha a Times Squere
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 08/05/2010, O Mundo, p. 39

Pacote abandonado mobiliza esquadrão antibomba e interdita três quarteirões da movimentada praça

TIMES SQUARE é fechada de novo enquanto agente do esquadrão antibomba examina pacote abandonado

NOVA YORK. Parecia filme repetido: a Times Square voltou a ser fechada pela polícia ontem por causa de um pacote suspeito deixado na frente do Hotel Marriot Marquis, às 12h42m. O incidente ocorreu menos de uma semana após a tentativa frustrada de ataque à esquina mais movimentada do mundo com explosivos em um carro-bomba.

E, por cerca de uma hora, os nova-iorquinos reviveram o pesadelo: o esquadrão antibomba foi ativado e examinou o pacote com um aparelho de raio-x. O resultado mostrou que era apenas uma sacola térmica com garrafas de água. Ao lado da bolsa foi deixada também uma sacola de compras com livros. Uma hora depois do alarme, a área foi reaberta.

Terrorista estava mergulhado em dívidas

O pacote suspeito foi descoberto por funcionários do hotel na esquina da Rua 46, a dois quarteirões do atentado do sábado passado. A polícia bloqueou toda a área entre as ruas 44 e 47. O prefeito Michael Bloomberg, que adotou medidas mais rígidas de policiamento nas ruas, justificou o aparato policial:

¿ Nova York continua a ser alvo prioritário de terroristas e por isto continuaremos a tomar todas as precauções necessárias para proteger a cidade de ataques terroristas. E para isso contamos com a polícia mais eficiente do mundo.

Enquanto a Times Square parava, as investigações em torno das conexões do acusado do atentado com o carro bomba, Faisal Shahzad, prosseguiam, desta vez rumo ao desvendamento de suas fontes de dinheiro. Shahzad estava mergulhado em dívidas e havia sido declarado inadimplente por não conseguir pagar a hipoteca de US$200 mil sobre um imóvel de três quartos em Shelton, Connecticut. E, em fevereiro, conseguiu um empréstimo de US$65 mil, renegociando a dívida da casa.

Para comandante dos EUA, não há ligação com radicais

Mas os investigadores descobriram que Shahzad trouxe US$80 mil em dinheiro do exterior, entre 1999 e 2008. E no último emprego que teve, até junho de 2009, ganhava um salário anual de cerca de US$60 mil. Por isso, a polícia quer saber se Shahzad recebeu ajuda financeira para executar o atentado. O material encontrado dentro da Nissan Pathfinder foi avaliado em US$2 mil.

A pistola encontrada num dos dois carros alugados teve custo estimado em US$400. Shahzad também pagou em notas de US$100 pelos dois carros, pela passagem de avião para Islamabad, via Dubai, e ainda arcou com o apartamento alugado em Bridgeport, invadido e inspecionado pela polícia.

O comandante das tropas americanas no Iraque e no Afeganistão, general David Petraeus, declarou ontem acreditar que ¿Shahzad é um lobo solitário que não teve contato com radicais do Paquistão¿. Mas os policiais que prosseguem com os interrogatórios do suspeito confirmaram que Shahzad confessou ter recebido treinamento militar num campo de terroristas na província de Waziristão, na fronteira do Paquistão com o Afeganistão, nos cinco meses em que permaneceu no país, entre junho de 2009 e janeiro de 2010.

Investigadores vasculham ligações entre várias organizações terroristas naquela província, que incluem grupos como o Talibã e uma organização chamada Lashkar-e-Taiba, que esteve por trás de um atentado a bomba em Bombaim, na Índia em 2008