Título: Cautela para não desagradar a Tuma pai
Autor: Maltchik, Roberto; Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 13/05/2010, O País, p. 4

Lula não quer transformar senador em adversário de Dilma na eleição

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A relutância do presidente Lula e do ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, em afastar o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., tem um componente eleitoral. Lula e Barreto tratam o assunto com cautela para não transformar o senador Romeu Tuma (PTB-SP), pai de Tuma Jr., em adversário político nas eleições. Candidato a reeleição, Tuma é considerado importante cabo eleitoral em São Paulo. A tendência é que o senador siga a decisão do diretório do partido em São Paulo de apoiar a candidatura presidencial do tucano José Serra. Mesmo assim, o governo não gostaria de ver Tuma pedindo votos para Serra e atacando a candidata governista, Dilma Rousseff. Tuma foi eleito com 7,2 milhões de votos e, segundo auxiliares, estaria liderando a atual disputa, ao lado de Marta Suplicy (PT). Ou seja, o senador ainda mantém influência no eleitorado paulista. Tuma é uma peça importante no xadrez político e, por isso, o governo tem dificuldade em lidar com a questão. Tuma também é importante para a futura decisão sobre os rumos da direção nacional do PTB. Líderes do partido, como os senadores Fernando Collor de Mello (AL) e Gim Argello (DF), estão alinhados com Dilma Rousseff. Mas o presidente do partido, o ex-deputado Roberto Jefferson, e o deputado estadual Campos Machado (SP) ainda tentam mudar o quadro e levar o partido a apoiar Serra em âmbito nacional. O governo também não gostaria de ver Tuma engrossando esse movimento. As relações entre os Tuma e o presidente Lula extrapolam a política. O presidente entende que tem uma dívida com o senador desde a fase final da ditadura, quando foi preso por liderar uma greve do Sindicato dos Metalúrgicos. Então diretor da PF, Tuma permitiu que Lula deixasse a cadeia para comparecer ao enterro da mãe. Os dois estiveram em lados políticos opostos desde então, mas sempre mantiveram relações cordiais. Lula teria ainda uma proximidade ainda maior com Tuma Jr, com quem partilha a torcida pelo Corinthians. Quando foi chamado para a secretaria, um de seus assessores disse que Tuma Jr. era não apenas amigo, mas também fã de Lula. O toque de campainha do telefone do secretário teria uma gravação em que uma pessoa imita a voz do presidente. Tuma Jr. chegou ao cargo numa ampla negociação, que coincidiu com a transferência de Tuma do DEM para o PTB, partido da base governista. O deputado Walter Feldman (PSDB-SP) disse acreditar que Tuma Jr. não tenha sido afastado por indecisão de Lula. Ele criticou o fato de não haver uma regra na administração federal que exija o afastamento de ocupantes de cargos públicos acusados de irregularidades: ¿ Essa indecisão de Lula acaba virando desnecessariamente problema político, que não existiria com a regra administrativa do afastamento automático.