Título: Tesourada socialista
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 13/05/2010, Economia, p. 23

Agencia O Globo

Governo de Zapatero corta salários e congela aposentadorias para poupar G 15 bi e baixar déficit

Pressionado pelos indicadores econômicos e pelos sócios europeus, o presidente do Governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, viveu, ontem, provavelmente o dia mais difícil do seu mandato. Para acelerar o processo de consolidação fiscal, anunciou impopulares cortes sociais, como redução de 5% nos salários do funcionalismo público e congelamento das aposentadorias, a fim de reduzir os gastos do governo em C 15 bilhões. A oposição pediu antecipação das eleições, e os sindicatos conclamaram a sociedade a se manifestar. Por outro lado, o Fundo Monetário Internacional (FMI), que só dará seu parecer oficial no dia 18, adiantou que a atitude de Zapatero ¿é o melhor caminho para reforçar a confiança dos mercados¿. A Comissão Europeia disse também que Espanha ¿parece ir em boa direção¿. ¿ Assumo essa responsabilidade. A situação é difícil e seria insensato ocultá-la. É agora que necessitamos de um esforço coletivo para manter os investidores e a imagem de estabilidade. Não é fácil me dirigir assim aos cidadãos ¿ disse Zapatero. O dever de casa da Espanha é, seguindo as exigências de Bruxelas, reduzir seu déficit público (previsto para 9,4% este ano) a 3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) até 2013, como reza o Pacto de Estabilidade da União Europeia. O PIB espanhol cresceu 0,1% no primeiro trimestre graças ao consumo, informou ontem pelo Instituto Nacional de Estatísticas. Já a Eurostat informou ontem a que a economia da zona do euro avançou 0,2% no primeiro trimestre frente ao quarto trimestre do ano passado e avançou 0,5% sobre igual período de 2009, em linha com a previsão de analistas. Para atingir seu objetivo, o governo vai cortar o salário de todos os seus servidores em 5% este ano e congelá-lo em 2011. A remuneração dos membros do governo será reduzida em 15%. O Executivo espera que Congresso, Senado, os parlamentos regionais e o Poder Judiciário façam o mesmo. ¿ É um exemplo para que setores privados façam os mesmos esforços salariais que Zapatero anunciou no setor público ¿ disse Emilio Ontiveros Baeza, catedrático de Economia da Universidade Autônoma de Madri e presidente da consultoria Analistas Financieros Internacionales. ¿ São medidas que acentuam o perfil contrativo da economia. Será difícil evitar certa ¿anorexia¿ este ano e em 2011. Para os deputados socialistas, foi uma mostra de valentia política. Já para o principal partido da oposição, o conservador Partido Popular (PP), as medidas são ¿uma barbaridade¿ e ¿dão motivos para convocar eleições¿. E o partido Izquierda Unida (IU), que costuma apoiar os socialistas, manifestou sua contrariedade: ¿ Vimos um golpe financeiro ao Estado do bem-estar, e isso requer uma forte contestação social ¿ afirmou o secretário do IU, Ángel González.

Sindicatos preveem agravamento da crise

A opinião dos sindicatos, que se reúnem hoje com Zapatero, é que o pacote, em vez de ajudar, atrapalha o processo. Para a União Geral de Trabalhadores (UGT), as medidas são ¿impróprias de um governo socialista¿. Seu presidente, Cándido Méndez, prevê agravamento da crise e demora maior na recuperação do país: ¿ Sem nenhuma dúvida, analisando profundamente e de maneira serena o alcance das medidas, sabemos que o conflito social será uma realidade ao longo das próximas semanas, e teremos de ver como lidar com ele ¿ disse Méndez, que, no entanto, descarta convocar uma greve. O pacote inclui ainda o fim chequebebê (C 2.500 por nascimento) e corte nos investimentos públicos de C 6 bilhões. Mesmo assim, a Espanha continuará em sexto lugar no ranking dos países das maiores doações depois de Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido e Japão. Zapatero também mexeu na Lei de Dependência, a menina dos olhos de seu governo, eliminando a retroatividade na concessão de pensões a portadores de necessidades especiais e inválidos por acidente, doença ou velhice. ¿ Apesar de serem impopulares, essas medidas poderão melhorar a posição do governo ¿ disse Nicolás López, diretor da M&G Valores. Os mercados reagiram favoravelmente: a Bolsa de Madri subiu 0,81%, tendo chegado a avançar 2,7% logo após o anúncio do pacote. Ontem a Grécia recebeu C 5,5 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI), a primeira parcela do pacote de resgate.