Título: Secretário vai ser o 'xerife' dos projetos
Autor: Goulart, Gustavo, Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 16/05/2010, Rio, p. 18

Há um mês no cargo, o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Ricardo Henriques, será o xerife dos projetos sociais e ambientais nas favelas com UPPs. A ideia é beneficiar, até o fim do ano, 220 mil moradores. Uma das prioridades será implantar uma política de capacitação de jovens.

Economista e professor da UFF, com a experiência de quem criou o programa BolsaFamília, do governo federal, Henriques será o responsável pela interlocução entre as comunidades e os órgãos estaduais, municipais e a iniciativa privada. Ele frisa que não atuará como síndico das favelas, ou seja, um mero recebedor de demandas e reclamações.

O primeiro passo para organizar todos os programas já existentes nas comunidades será eleger os melhores. Para isso, será necessário fazer um raio X das favelas com UPPs, abrindo as portas dessas áreas para ações públicas, da iniciativa privada e de ONGs.

Projeto de rádio comunitária é elogiado Um dos projetos que já ganhou a simpatia da equipe da secretaria, para ser implantado em comunidades com vocação musical, como a Cidade de Deus, é o da rádio comunitária transmitida pela internet, num modelo semelhante ao criado na Favela de Vigário Geral. Para implantar uma rádio, segundo o secretário, é necessário ter um amplo estúdio e modernos equipamentos atrativos perfeitos para o públicoalvo desse tipo de iniciativa, o jovem.

Vejamos um caso: um jovem cujo irmão foi assassinado e que é filho de uma mulher negra, analfabeta e sem marido. Se eu achar que o imaginário dele e a sua relação com o poder público são análogos aos da minha filha, eu não estou entendendo nada de política pública. Temos que analisar cada caso e buscar soluções que seduzam aquele tipo de jovem argumentou Henriques, que cita também o grafite como um modo de integrar os jovens.

A ideia é, entre outras, combater a pobreza extrema de algumas áreas do Rio, como a localidade conhecida como Caratê, na Cidade de Deus, onde há moradores que convivem com o esgoto a céu aberto. Já nas favelas da Zona Sul, a intenção é estimular a vocação turística das comunidades, aproveitando a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, com a criação de cursos de inglês e espanhol para os moradores.

Com a cidade pacificada, é possível reduzir as desigualdades, acabar com os efeitos da cidade partida. É preciso dinamizar esta sociedade, por exemplo, implantando bancos nesses locais. Se a pessoa for beneficiada pelo Bolsa-Família, poderá resgatar o seu dinheiro na sua própria comunidade diz o secretário de Assistência Social.

Secretário defende integração de políticas Para tratar do trabalho que será feito nas favelas com UPP, foi realizada na última terçafeira, no Palácio Guanabara, uma reunião com o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes, secretários e representantes da iniciativa privada e da área acadêmica.

Há uma tendência de fragmentação das políticas. O que observamos é que há complexos, como o da Maré e o do Alemão, que têm dezenas de programas e ONGs. Já em outras comunidades, há um enorme vazio. Não há desenvolvimento sustentável sem integração afirma Henriques. Se eu integro a escola a uma lógica de educação ambiental, isso vai afetar a vida das crianças e das pessoas ao seu redor. É uma forma de fazer com que o ensino fundamental dê mais qualidade de vida no que se refere ao destino do lixo, por exemplo.

Atualmente, há UPPs nos morros Dona Marta (em Botafogo); Babilônia/Chapéu Mangueira (Leme); Pavão-Pavãozinho/Cantagalo e Tabajaras/ Cabritos (Copacabana); Providência, Pinto e Pedra Lisa (Centro); na Cidade de Deus (Jacarepaguá); e no Jardim Batam (Realengo). Na Tijuca, estão em fase de implantação duas UPPs abrangendo os morros do Borel, da Casa Branca, da Formiga, da Indiana, do Catrambi, do Cruz e da Chácara do Céu.