Título: A nova fase das UPPs
Autor: Goulart, Gustavo, Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 16/05/2010, Rio, p. 18

Programa entra em sua segunda etapa, com ações sociais e de educação ambiental

Depois de livrar 19 comunidades do poder de traficantes e milicianos, o programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) entra numa nova etapa: a implantação de políticas sociais e de desenvolvimento sustentável nas regiões ocupadas.

A Polícia Militar, que usou o poder de suas armas para retomar esses territórios, vai passar a atuar em novas frentes. Já na Semana do Meio Ambiente, no início de junho, o Batalhão de Polícia Florestal e Meio Ambiente lançará o programa UPP Verde, para reprimir o desmatamento e conscientizar a população sobre a importância da preservação ambiental. Outra iniciativa da PM pretende resgatar o conceito do Projeto Rondon, do governo federal, levando universitários às comunidades.

O Rondonzinho, nome provisório dado pela PM ao projeto do professor Rafael dos Santos, da Faculdade de Educação da Uerj, tem como um dos objetivos difundir entre os moradores das favelas pacificadas conhecimento muitas vezes restrito às universidades. Um estudante de medicina poderá, por exemplo, dar conselhos para os moradores adotarem hábitos que evitem doenças. Além disso, a iniciativa promoverá a integração do morro e do asfalto (a PM considera que a maioria dos estudantes não mora nas favelas).

Universidades públicas e privadas já estão sendo convidadas para o projeto.

Ao mesmo tempo em que aprende, o estudante também ensina, no sentido de que ele poderá desenvolver ações preventivas em sua área. Se, na área de saúde, ele não pode atuar como médico, pode ensinar medidas profiláticas. O aluno vai conhecer a realidade do local. Será muito bom para ele e para os moradores explicou o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte.

UPP Verde vai começar pelo Morro Dona Marta

O UPP Verde vai começar no Morro Dona Marta, em Botafogo, em clima de festa. Segundo o tenente-coronel Mário Fernandes, comandante do Batalhão de Polícia Florestal e do Meio Ambiente, o lançamento do projeto terá a apresentação da Companhia de Cães e do helicóptero verde da PM. O primeiro curso de monitoramento ambiental será dado a 50 pessoas da comunidade estudantes a partir de 12 anos.

Elas receberão orientações sobre como cuidar do lixo e até da higiene pessoal, além de saber sobre a importância de não desmatar.

A floresta faz parte do ambiente daquela população. A cobertura florestal é proteção para ela. É preciso que os moradores aprendam isso. O Parque Nacional da Tijuca é um lugar para eles usufruírem também. É preciso que o estado esteja lá, através do Batalhão Florestal, mas que as pessoas também estejam conscientizadas da necessidade de preservar.

Nós vamos combater o desmatamento disse o comandante do Batalhão Florestal, ressaltando que não serão permitidas novas construções em área verde.

O coronel Mário Sérgio ressalta que a realidade agora é outra: No passado, ficávamos ajudando os órgãos municipais e estaduais a colocarem as barreiras ecológicas. Tínhamos que fazer a patrulha e a defesa dos técnicos.

A crença da PM no programa das UPPs vai além: a corporação pretende enviar às regiões pacificadas seus capelães (pastores e padres que são militares). O Batalhão de Operações Especiais (Bope), porém, já está organizando eventos ecumênicos, como o realizado ontem para 200 moradores do Morro do Borel, na Tijuca.

Hoje eles podem ver que somos cidadãos e não só policiais. Estamos quebrando paradigmas disse o sargento Max Coelho, do Bope.

COLABOROU Renata Leite