Título: Economista defende mais tempo de contribuição para Previdência Social
Autor: Doca, Geraldo
Fonte: O Globo, 16/05/2010, O País, p. 4

Giambiagi alerta para mudanças radicais que impeçam colapso no futuro

A passos largos para se tornar um país de idosos, a Previdência é problema no Brasil e deveria ser prioridade para candidatos ao próximo governo.

Não admitir a necessidade de ajustes no sistema previdenciário e adiar o enfrentamento da questão é transferir a conta para as futuras gerações. Situação que se agravará se o Senado confirmar as medidas aprovadas recentemente pela Câmara.

O alerta é do economista Fábio Giambiagi, retratado no livro Demografia: uma ameaça invisível, a ser lançado nesta semana.

O livro apresenta uma proposta de reforma radical para quem ainda vai entrar no mercado de trabalho, com regras únicas para todos trabalhadores da iniciativa privada, servidores públicos e militares.

Pela proposta, a pensão (herdada de aposentados falecidos) cairia pela metade e quem vier a ingressar no mercado de trabalho terá que contribuir por 40 anos e não mais 35, no caso dos homens; e 39 anos para as mulheres (hoje 30 anos). Além disso, estabeleceria a idade mínima para requerer aposentadoria, que seria de 65 anos (homem) e 64 anos (mulher) valendo para todos. Atualmente, somente servidores públicos precisam cumprir idade mínima. Quem se aposentar por idade terá de ter 67 anos (homens) e 66 anos (mulheres) aumenta a idade das mulheres, porque elas estão vivendo mais.

Projeção do número de idosos é preocupante No livro escrito em parceria com Paulo Tafner, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Giambiagi volta atrás no discurso da fixação da idade mínima para quem já está no mercado, devido a dificuldades para se aprovar medida como esta. Mas os trabalhadores terão que contribuir por mais tempo para o INSS.

Na publicação, ele cita a revisão do IBGE em 2008, que considera muito preocupante porque eleva a projeção de idosos para 2050 em 20% além da já estimada em 2004. Atualmente, para cada cem pessoas com idade entre 15 e 64 anos, há dez idosos com 65 anos ou mais. Em 2050, serão 36 idosos para cada cem pessoas entre 15 e 64 anos.

A população com 65 anos ou mais vai simplesmente triplicar nos próximos 40 anos. A proporção daqueles com 65 anos ou mais vai crescer acima disso, nesse período. Por sua vez, o grupo com mais de 80 anos passará de 1% para 6% da população em apenas quatro décadas.

A Previdência não pode ser encarada só como uma questão matemática porque existem questões sociais e políticas fortemente envolvidas. Mas ela é matemática, independente da ideologia de quem for o presidente da República ao longo dos 30, 40 anos. Esse é um desafio disse o economista.