Título: O governo gasta agora, mas ganhará com o desenvolvimento econômico'
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 16/05/2010, O País, p. 3
Economista diz que mercado não critica alta dos juros por motivo ideológico e que maior dívida foi contraída na compra de dólares
O economista Amir Khair, especialista em finanças públicas, considera que a trajetória da dívida bruta é um indicador importante para medir a saúde fiscal de um país assim como a dívida líquida. Mas ele não vê nas operações do Tesouro com o BNDES o maior problema da dívida bruta. Na visão do economista, por motivos ideológicos, o mercado não critica, por exemplo, o peso dos juros e das reservas internacionais no crescimento dessa dívida.
Khair cujas teses são identificadas com as bandeiras da esquerda e de setores do PT é crítico dos juros altos e defende a redução gradual das reservas, até que se encontre um ponto de equilíbrio que garanta a blindagem que o país precisa para enfrentar crises e turbulências externas, sem pesar tanto na dívida pública.
Para especialista, patamar atual da dívida bruta está nos padrões internacionais As reservas internacionais são, de fato, um outro fator determinante no crescimento da dívida bruta. Isto porque o Tesouro precisa emitir títulos para neutralizar a entrada de dólares no país, aumentando dessa forma a dívida pública. E o rendimento das reservas no exterior, comparado com o custo desses títulos atrelados à taxa de juros básicos do Brasil (Selic), resulta em custos para o Tesouro, o que se reflete na dívida.
Esse fator é esquecido pelos analistas.
Vejo um viés ideológico. Quem criou a maior dívida foi o Banco Central comprando dólares afirma o economista.
Ele lembra que as reservas somavam US$ 35,9 bilhões em 2002 e estão hoje em US$ 250 bilhões.
O mercado diz que as reservas blindaram o país, mas o BNDES, com maior oferta de crédito, ajuda as empresas. Ajuda a desenvolver a oferta e a infraestrutura, o que acaba beneficiando o conjunto do país observa.
Ele lembra que o BNDES desempenha esse papel na ausência do setor privado, que não oferece empréstimos de longo prazo. E argumenta que o reforço que o Tesouro está concedendo ao BNDES com a emissão de títulos públicos vai favorecer todo o conjunto industrial e retornará, no futuro, em forma de crescimento econômico e aumento da arrecadação de impostos.
É um subsídio, mas vai retornar. O governo gasta agora, mas ganhará com o desenvolvimento econômico.
Khair considera que o atual patamar da dívida bruta ou mesmo as projeções que indicam o um crescimento para 64% do PIB no final do governo não é um nível assustador.
Quando comparada com o resto do mundo, a posição não é ruim afirma.
Temos que avaliar o cenário completo.
Não se pode ver apenas a saída da rede (para o mar), sem considerar o retorno da rede. A divida bruta tem que ser vista em perspectiva conclui. (Regina Alvarez)