Título: Felipe González diz que, sem reforma financeira, haverá outra crise global
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Fonte: O Globo, 18/05/2010, Economia, p. 19
Para ex-presidente espanhol, EUA e Europa ainda não deixaram recessão
SÃO PAULO. O ex-presidente do Governo espanhol Felipe González afirmou ontem que, caso as novas regras para a regulação do sistema financeiro internacional não sejam adotadas agora (para serem implementadas ao longo dos próximos dois ou três anos), ¿se estará incubando a próxima crise¿. Segundo ele, além da reforma financeira, são necessárias mudanças estruturais. González citou como exemplo as economias europeias e seus sistemas de seguridade social e aposentadoria como insustentáveis para o perfil demográfico do continente. ¿ É preciso uma resposta rápida para o ajuste do sistema financeiro, depois das operações caríssimas de socorro às economias ¿ afirmou González em seminário promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC). ¿ Não se pode deixar a oportunidade de reformar o funcionamento do sistema financeiro, porque encubaremos a crise seguinte. Ele disse ainda que, nesse processo, é necessário evitar uma hiperregulação: ¿ Mas temo que não se faça a reforma, e o sistema continuará funcionando como um cassino. E pior do que isso, um cassino sem regras. Segundo González, a crise iniciada em 2008 não passou. O que ocorreu foi que a recessão dela resultante foi superada completamente por algumas economias, como as de América Latina e Ásia. ¿ Mas, para a Europa e os Estados Unidos, não está claro ainda que a recessão ficou para trás ¿ afirmou. A despeito do graves problemas das economias europeias, inclusive Espanha, González defendeu o pacto de estabilidade fiscal como pilar da União Europeia. Ele destacou que os problemas de seu país decorrem menos do endividamento do setor público que do descontrole da conta de capitais e do endividamento privado. E lembrou que o único país do bloco que exporta capitais é a Alemanha. ¿ O problema não está nas contas públicas, mas nas contas do país. Se a dívida pública é de 37% do PIB e a dívida do setor privado é de 200% do PIB, não há como não entrar em crise. Já o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique ressaltou o fato de que não existem na economia mundial atualmente instituições com capacidade de liderar o ajuste que é preciso fazer. Segundo ele, o G-20 é um avanço sobre o G-7, mas não tem instituições importantes. E, apesar do pequeno avanço na reorganização do controle do Fundo Monetário Internacional (FMI), as novas regras ainda não estão claras. O seminário teve ainda a presença dos ex-presidentes Julio Sanguinetti, do Uruguai, e Ricardo Lago, do Chile.