Título: Euro atinge menor patamar em quatro anos
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Fonte: O Globo, 18/05/2010, Economia, p. 19
Moeda única se recupera no fim do dia, com alta de 0,3%, mas analistas ainda temem contágio na economia global
NOVA YORK, LONDRES, BRUXELAS, TÓQUIO e RIO. A crise do endividamento na zona do euro foi mais uma vez, ontem, a preocupação dos mercados, o que fez o euro atingir seu menor patamar em quatro anos. A moeda única europeia chegou a cair 1%, a US$ 1,2235, sua menor cotação desde 2006. No fim das operações do mercado americano, no entanto, o euro se recuperou e encerrou em alta de 0,3%, a US$ 1,2395. Segundo André Sacconato, mestre e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (USP), a queda na cotação do euro já era esperada devido à recuperação mais rápida da economia americana em relação à europeia. ¿ Essa expectativa já deixa o euro mais fraco. Além disso, com a crise na Grécia, há uma força maior nesse movimento, derrubando a cotação ao menor nível desde 2006. Por outro lado, o euro ficando mais barato irá deixar as exportações da Europa mais competitivas, atenuando a retração no mercado interno ¿ diz Sacconato. Investidores veem o euro como um indicador de confiança nas economias europeias. Sua cotação vinha caindo desde o início do mês devido ao temor de que os problemas fiscais na zona do euro prejudiquem a recuperação da economia europeia e, em um efeito cascata, a dos Estados Unidos. Assim, quando o euro começou a subir ontem, os operadores do mercado americano viram um sinal positivo: o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, fechou em ligeira alta, de 0,05%, enquanto Nasdaq e S&P avançaram 0,31% e 0,11%, respectivamente. As bolsas europeias já haviam fechado em baixa, com a queda das commodities puxando para baixo os papéis de mineradoras. Paris recuou 0,47% e Londres, 0,01%. Na contramão, Frankfurt subiu 0,17%.
Crise europeia já afeta exportações da China
Na Ásia, pesou a preocupação de que a crise na Europa afete os exportadores da região, principalmente a China. A Europa é o maior mercado daquele país, e a debilidade do euro dificulta o fim do uso do dólar como moeda de referência pelos chineses ¿ desejo expresso por Pequim no mês passado. Nos últimos quatro meses, o yuan avançou 14,5% frente ao euro, o que torna os produtos chineses menos competitivos na Europa. A expectativa de um aperto monetário na China, com valorização do yuan, fez a Bolsa de Xangai desabar 5,1% ontem. Tóquio recuou 1,2%, e Seul, 2,6%. ¿ A preocupação é se a situação fiscal na Europa irá realmente atingir a economia europeia e, em seguida, a economia global ¿ disse Takashi Ushio, diretor da Marusan Securities. ¿ Isso prejudica os exportadores, não só no Japão mas também na China. Grécia espera para breve 1ª parcela do socorro da UE Para Niall Ferguson, especialista em história econômica, o pacote de ¿ 750 bilhões ¿jogou água na fogueira, mas o fogo não apagou¿. Ele disse ao ¿New York Times¿ que o socorro visava mais a ajudar os bancos alemães e franceses que a Grécia. O economista-chefe global do Goldman Sachs, Jim O¿Neill, disse que é ridículo sugerir que a zona do euro vá se esfacelar dentro de um ano. ¿ São 60 anos de História, então a ideia de que o euro desmorone em seu primeiro teste de credibilidade é altamente improvável. Pode ser que em 20 anos (o euro) não exista, mas a ideia de que deixará de existir no ano que vem porque o mercado está preocupado com as necessidades de financiamento de Espanha e Portugal é ridícula ¿ disse O¿Neill à Bloomberg News. Os ministros de Finanças da zona do euro defenderam ontem a união monetária e afirmaram que não haverá alta de preços na região. O primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, que presidiu o encontro de ontem, reafirmou a confiança dos governos no euro. Ele disse ainda que os países do bloco estão prontos a liberar a primeira parcela do empréstimo à Grécia. Segundo o jornal espanhol ¿El País¿, citando fontes do Ministério de Finanças grego, sob o comando de George Papaconstantinou, devem ser liberados esta semana ¿ 14,5 bilhões. (Bruno Rosa, com Bloomberg News e agências internacionais)