Título: Para Reino Unido, França e Rússia, acerto é insuficiente
Autor:
Fonte: O Globo, 18/05/2010, O Mundo, p. 23

Correspondente e Enviado especial

PARIS e MADRI. França, Reino Unido, Rússia e Alemanha reagiram ontem com ceticismo ao anúncio de Brasil e Turquia sobre um acordo em relação ao programa nuclear iraniano. Para a Comissão Europeia, o acordo vai no sentido certo, mas não resolve a questão. De acordo com o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, o acordo não é um avanço suficiente para justificar a retirada da proposta de sanções ao regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Estou convencido de que ainda é necessário impor sanções como forma de realmente engajar o Irã num compromisso disse o ministro, que na semana passada, quando assumiu o cargo, não descartara uso de força contra o Irã.

França: passo positivo, na direção certa, mas que não resolve

Na França, depois de elogiar os esforços do Brasil e da Turquia, um porta-voz do Quai dOrsay o ministério das Relações Exteriores disse que o país quer examinar primeiro o acordo assinado em Teerã pelos três países. Mas o porta-voz foi categórico ao dizer que isso não resolve em nada o problema central: a disposição do Irã de continuar enriquecendo urânio. A troca de urânio é apenas uma medida de confiança, um acompanhamento. O problema central é o programa nuclear iraniano, é a continuação das atividades de enriquecimento (de urânio) em Natanz, a construção do reator de água pesada em Arak, a dissimulação da usina de Qom, questões que não foram respondidas aos inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) disse. O porta-voz ainda deixou claro que os preparativos para novas sanções contra o Irã pelo Conselho de Segurança da ONU vão continuar. A AIEA não quis reagir, alegando que quer primeiro receber e analisar o acordo. A Comissão Europeia também disse, em nota, ser necessário esperar os detalhes do acordo, já que muitas questões levantadas anteriormente continuariam sem resposta. Esse acordo, embora seja um passo positivo na direção certa, não resolve integralmente a questão do programa nuclear iraniano. O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, foi na mesma linha: tachou o anúncio de positivo, mas insuficiente. E o porta-voz do governo alemão, Christoph Steegmans, reforçou o coro de que a grande questão permanece sobre a continuidade das operações de enriquecimento de urânio. O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, também expressou preocupação com o anúncio do Irã de que continuaria enriquecendo urânio, mas afirmou que discutiria a questão com o presidente Lula, e que uma pequena pausa ao processo de sanções não faria mal. Depois disso, precisaríamos decidir o que fazer: essas propostas são suficientes ou precisa-de de algo mais? Acho que uma pequena pausa não fará nenhum mal.