Título: Israel prefere o silêncio, mas vê manipulação para evitar punições
Autor:
Fonte: O Globo, 18/05/2010, O Mundo, p. 23

Especial para O GLOBO

TEL AVIV. Ceticismo e preocupação. Esse foi o tom das reações de Israel em relação ao acordo firmado em Teerã. Oficialmente, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu optou pelo silêncio. A assessoria do premier não divulgou uma vírgula sequer sobre o acordo firmado por Irã, Brasil e Turquia. Mas, nos bastidores, integrantes do governo passaram o dia afirmando que o Irã manipulou o Brasil e a Turquia com o simples objetivo de adiar sanções contra o país. O Irã usou a Turquia e o Brasil numa manobra típica de seu atual governo. Está apenas simulando que aceita esse acordo, o qual pode adiar as sanções contra Teerã, mas não o desenvolvimento de armas de destruição em massa disse um assessor da Chancelaria israelense ao GLOBO. No artigo Irã dança samba no site Ynet, o articulista Ron Ben-Yshai concluiu que Teerã deixou que Brasil e Turquia acumulassem prestígio às custas dos Estados Unidos, enquanto consegue adiar, através deles, as sanções no Conselho de Segurança da ONU. Analistas acham que Brasil está querendo desenvolver bomba atômica Netanyahu pediu aos membros de seu Gabinete que evitassem falar sobre o assunto. Mas o ministro da Indústria e Comércio, Benjamin BenEliezer, não se conteve e criticou o acordo. O governo está cético quanto ao acordo. Estamos estudando o conteúdo e vamos esperar o que vai acontecer disse Ben-Eliezer à rádio Reshet Bet, acrescentando que não há mágoa com o Brasil, que, segundo ele, é país em plena ascensão mundial e que tem o direito de se envolver no conflito que quiser. Para Guiora Eiland, que foi assessor de segurança nacional do governo Ariel Sharon (20002006), o Brasil pode até ter boas intenções principalmente quando pretende servir de mediador nas negociações de paz entre israelenses e palestinos. Mas, no caso do programa nuclear iraniano, não é um país ingênuo. O Brasil quer ser uma potência mundial. E tem um presidente carismático que quer ser um ator internacional. Mas tem um outro motivo, menos aberto: o país também quer, no futuro, desenvolver armas nucleares especula. A opinião de Guiora Eiland é compartilhada pelo professor Eli Karmon, pesquisador do Instituto Internacional para Contraterrorismo em Herzlyia. Para ele, há cada vez mais indícios de que o Brasil estaria interessado em desenvolver suas próprias armas para entrar no seleto clube de superpotências. Outro objetivo, mais imediato, diz, seria ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas, para Karmon, o tiro pode sair pela culatra quando e se o acordo de Teerã não der resultados práticos.